VVVVVV>&&&&&%gt;gt;>>>>>>>>>>>>>>>>>"Ver e ouvir são sentidos nobres; aristocracia é nunca tocar."

&&&&&&>>>>>>>>>"A memória guardará o que valer a pena: ela nos conhece bem e não perde o que merece ser salvo."


%%%%%%%%%%%%%%"Escrevo tudo o que o meu inconsciente exala
e clama; penso depois para justificar o que foi escrito"


&&&&&&&&&&&&&&;>>gt;>>>>>>>
"
A fotografia não é o que você vê, é o que você carrega dentro si."


&
;>&&&&&>>>>>>>>>>>>>>>>&gt
"Resolvi não exigir dos outros senão o mínimo: é uma forma de paz..."

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"Aqui ergo um faustoso monumento ao meu tédio"


&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"A inveja morde, mas não come."


quarta-feira, 12 de novembro de 2014

As Espécies de Cattleyas Brasileiras Confusas ou Parecidas - Parte II



O material jornalístico produzido pelo Estadão é protegido por lei. Para compartilhar este conteúdo, utilize o link:http://cultura.estadao.com.br/noticias/literatura,as-frases-e-os-poemas-mais-marcantes-de-manoel-de-barros,1592206

"Eu não tenho nada 
para oferecer a ninguém.
Exceto minha própria confusão. 
A confusão é, na maioria
 das vezes, oriunda de 
outras confusões."



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"Tentar ordenar o que sempre 
obedeceu à confusão é 
uma tarefa inglória
 por origem

A ignorância é uma das melhores
vertentes da felicidade, 
há coisas que nos
ampliam para
 menos."
 






Assim é...se lhe parece !

Você decide !


Click para ver Cattleyas
 Confusas ou Parecidas:

PARTE I

PARTE III

PARTE IV


Perguntaram a Santo Agostinho:

O que estava Deus a fazer 
antes de criar o mundo?

Ele logo respondeu:

Estava a preparar o Inferno
 para todos que fazem 
estas pergunta

Esta postagem é claramente dirigida
 aos neófitos e leigos, que tal como
 eu no passado, não conseguem
 acesso fácil à informação 
técnica sobre 
orquídeas.






Caso Complexo B: 

guttata X leopoldii



Cattleya leopoldii ?
Ou seria C. guttata ?

Esqueça cores e texturas visualmente tão atrativas,
repare mais nas formas, detalhes e proporções.
A chave para entender a confusão entre
espécies parecidas repousa em
detalhes pouco vistosos.





A flor viva, colorida e vibrante, desperta
naturalmente os sentidos e o senso
estético; a flor seca no herbário
nos revela as proporções e os
formatos diferenciais das
 estruturas muito mais
 objetivamente.

Reparem que na ilustração acima a variação da extensão
 de disposição das pequenas lamelas paralelas no labelo,
estas  mostram-se menores em C. leopoldii e muito
 mais extensas na C. guttata clássica.

Esta característica, que pode ser um importante
diferencial entre as duas espécies, não é
observável nas fotos, portanto
registro-a já de pronto.




O único ponto de partida para se desenvolver uma
 análise sobre estas duas espécies confusas é a
inquestionável configuração do labelo da
Cattleya guttata, conforme foi descrito
nos compêndios botânicos do
Séc. XIX, é desse ponto
que temos de partir.

Sabemos apenas o que é uma 
C. guttata clássica e uma
C. amethystoglossa, já
 é alguma coisa...



As ilustrações acima e abaixo  dispõem as quatro
 variações mais comuns em Cattleya guttata.
Da forma geral, apenas as variações de
 labelo  confundem um tanto, porém
não são fator distintivo pleno, é o
conjunto geral  que separa
as espécies aqui postas
em discussão.


Na parte de baixo da imagem imediatamente acim, vemos as variações botânicas mais comuns na bela C. leopoldii. Procurem reparar bem no ângulo de inserção do labelo  e da coluna nesta espécie,  independente  da grande variação de cor e forma, a exposição frontal da coluna é bem típica, demonstrando alguma diferença no pouso e talvez mesmo no tipo de polinizador. Já em C. guttata a coluna fica mais oculta em vista frontal, o lóbulo mediano  projetado do labelo de leopoldii é mostrado como sendo fendido, mas trata-se apenas de uma dobra bem no meio, e portanto não é uma característica diferencial forte. Pelas ilustrações acima, podemos perceber uma outra importante característica diferencial ligada às pétalas de C. leopoldii, estas são geralmente de menores proporções que as sépalas, também são bem mais onduladas; embora seja uma característica que não se mostre constante, é secundariamente distintiva em algumas determinações. Em C. guttata as pétalas se igualam ou mesmo superam às sépalas em proporções e destaque visual, e as pétalas são bem pontiagudas, denotando um outro arranjo geral para a apresentação de flores, olhem as ilustrações botânicas acima e abaixo e tentem observar o que descrevo.


A confusão entre estas espécies
é muito antiga, sempre existiu !



Ilustrações C. guttata:
 

 Uma espécie variável e frequente, medrava
comum  nas grandes extensões de
matas litorâneas brasileiras.
  Ilustrações C. leopoldii:

Acima a prancha original da designação de
 C.tigrina, descrita 7 anos antes, provocou
 a recente troca de nome e a lamentável
desabilitação botânica do antigo e
histórico taxon C. leopoldii.

 Mais um nome consagrado
morto por um trabalho
botânico que não
interessava a
ninguém.


 A historicamente retratada e famosa
C. leopoldiii: uma grande confusão
desde o início da classificação.



Em seu extenso e didático compêndio Orchidaceae Brasilienses, Guido Pabst nos mostra seu ponto de vista sobre a problemática guttata x leopoldii, ele expõe que somente os exemplares oriundos de SC e RS são os que ele entende exatamente como sendo C. leopoldii, acredito que refere-se aos que chamam de "leopoldão", ou seja, os exemplares de maior porte. Ele também dispõe que C. guttata  ocorre/ocorria no bioma da Mata Atlântica do RS até Sergipe, incluso nisto o segmento em SC e RS friso, ou seja, coabitando nesse habitat subtropical junto com a C. leopoldii. Apresenta-se assim o quadro de uma dispersão geográfica muito grande para a C. guttata, praticamente idêntico à área da Mata Atlântica. As ilustrações da obra de Guido Pabst mostram objetiva e didaticamente algumas dessas formas ou raças, alertando para as confusas similaridades entre as duas espécies. Mais recentemente, botânicos alertam para a presença de C. leopoldii na costa sul de São Paulo, na região da Juréia,  findando esta a ocorrência no Vale do Ribeira, igualmente atestam a sua não-ocorrência no Paraná.

Cattleya guttata  C. guttata restinga 
C. leopoldii - C. amethystoglossa.

Se não for isto,
é quase isto ! 

O croquis é só uma síntese
espacial do que é aqui
 superficialmente
comentado.

O mapa de distribuição geográfica  desta espécie
feito pelo CNPF-JBRJ, tem algumas ocorrências
estranhas no interior do PR e em MG.

No Norte-Pioneiro do PR  a espécie é
desconhecida, por aqui ocorre na
Mata Atlântica e no Vale do 
Ribeira na fronteira com
São Paulo.

Contudo, registro 
a concepção.

Outros acreditam que também exista a Cattleya leopoldii  em outros pontos do litoral brasileiro, imiscuída junto à população maior de C. guttata, ampliando assim o conceito de ser a sua distribuição exclusivamente sulina. Este é o panorama botânico documentado que consegui levantar sobre a problemática que aqui abordamos. Desta análise particular minha, entendi que   não existe gutttata coabitando com leopoldii no Sul do Brasil, a distribuição de C. guttata termina no litoral norte de SC, sendo substituída então, para as matas mais ao sul, por C.leopoldii e suas variedades de tamanho, as " leopoldinhas e leopoldões" , ambas com morfologia variável mas bem distintas de C. guttata. Pelo que observei, o conceito orquidófilo clássico considera apenas que o porte maior, o labelo largo e mais vistoso, além do aspecto de coloração mais escura das flores, já caracteriza por si só a C. leopoldii sulina. As plantas mais setentrionais, estas de flores mais numerosas e menores, com floração outonal em espata seca, independente da morfologia do labelo, seriam sempre C. guttatas em suas multiplicidade de aspectos florais e em diferentes habitats.


Fundamentos para compreensão dessa superespécie
 que contém os conglomerados de formas das 
Cattleyas guttata e leopoldii:

a)  Cattleya tigrina é o atual nome botânico válido para a classicamente conhecida Cattleya guttata var leopoldii, ou depois, tão somente C. leopoldii, apresenta uma precedência de alguns anos. O epíteto tigrina, deve ser entendido como "pintada como um onça", foi disposto como designação numa  época na qual chamavam a onça-pintada de tigre, por ser realmente mais antigo e segundo as normas da Botânica, tem precedência sobre leopoldii, indiscutível para uma espécie banal, porém danoso para uma espécie clássica tão famosa e cultivada. Então o novo nome parece-me válido, mas certamente  gerará certa confusão na cabeça dos orquidófilos, esses não gostam dessas mudanças abruptas e aparentemente tolas de nomes consagrados. O nome "guttata" signifiica  em latim "que apresenta gotas", relatando-se às características pintas mais escuras nas sépalas e pétalas. Já o nome "leopoldii" é uma homenagem ao orquidófilo rei Leopoldo da Bélgica , significa "de Leopoldo". Tendo em vista a procura por informações referentes a estas espécies na internet, continuaremos adotando, sempre e sempre, os nomes clássicos e consagrados por décadas de uso, portanto entenda-se "tigrina" onde escrevo "leopoldii", e não se fala mais nesse nome que ninguém conhece.

 
 A Cattleya leopoldii  típica, como apresenta-se
 nas  matas litorâneas de SC e RS.

b)  Cattleya leopoldii existe numa população maior e singularmente mais homogênea pelas matas de encostas e na vegetação arbórea de restinga no litoral entre Itajaí/Blumenau, em Santa Catarina, e o norte do Rio Grande do Sul.. Pela beleza exalante de suas flores, é muito apreciada e cultivada, chamada localmente por orquidófilos como "leopoldão", devido ao perceptível tamanho mais robusto das flores e do labelo,  também pelo porte de alguns dos seus exemplares . Nesse segmento de território não ocorre concomitantemente a C. guttata, assim pensam alguns; outros, e eu corroboro com estes,  entendem que há uma substituição de espécies a partir do litoral norte de SC. Na região montanhosa com Mata Atlântica pouco mais interior, e na Serra do Mar do Litoral no Paraná , só existe a C. guttata clássica nas matas, sendo consenso que não existe, C. leopoldii neste Estado. Também nas matas de Minas Gerais não ocorre esta espécie, e mesmo a clássica C. guttata nunca foi abundante por lá, sendo registrada, bem esparsamente, na fronteira imediata com o RJ e ES. Então a população sulina classicamente conhecida e descrita botanicamente como C. leopoldii é apenas catarinense e gaúcha. A C. guttata não apreciaria  então as regiões florestadas de clima mais amenos, mostrando-se ausente tanto nas maiores altitudes como na porção florestada subtropical do país; acredito nisto, mas registro que há discordâncias.

 
 Nos biomas paranaenses só existem as guttatas de serra, não se verificando a existência da variedade de maior porte desta espécie nas vastas restingas do Parque Nacional do Superagüi. A separação geográfica entre duas espécies aqui consideradas, tão bem demarcada no Sul do país, torna-se confusa em alguns pontos do Rio de Janeiro para o norte, algumas variações de C. guttata lembram bastante a população mais meridional.

Acima uma bela touceira florida da clássica C. guttata,
 mostra a morfologia geral característica dos seus
exemplares oriundos dos  habitats florestais
 nas grandes extensões da Mata Atlântica;
 a espécie apresenta-se como típica
onde este bioma é úmido e sem
estação seca ou fria muito
 perceptível, não aprecia
maiores altitudes.

c)  Nas restingas do Rio de Janeiro e do Espírito Santo, onde os vigorosos ventos marítimos refrigeram o inclemente calor do sol, surge uma raça/forma/variedade da C. guttata, típica apenas deste bioma.  Os exemplares destas variedade, são inequivocamente determinados como C. guttata, posto que as flores são idênticas ao tipo da espécie; porém apresentam, talvez, o maior porte vegetativo dentro do gênero Cattleya. São plantas muito grandes, com quase duas vezes e meia mais altura que o normal, encontram rivais apenas nas também muito encorpadas C. amethystoglossas baianas.

 C. guttata medra nas restingas
 fluminenses, plenamente adaptada.

 Germinam na parte baixa dos troncos arbustos da restinga, bem protegida dos inclementes sol e vento, também estabelecem-se nas raízes expostas destes arbustos, em raízes superficiais dispostas horizontalmente sobre a areia, e não raro direto sobre a areia sombreada, quando esta apresenta-se úmida e enriquecida e enegrecida de matéria orgânica decomposta. A vegetação de restinga forma uma massa baixa  e compacta de vegetação ( geralmente mirtáceas e clúsias ), conforme essas orquídeas jovens crescem à sombra, vão progressivamente apresentando pseudobulbos cada vez mais altos, até que sua folhas tornam-se expostas e inseridas na massa compacta de vegetação deste bioma, porém os pseudobulbos e raízes permanecem protegidos em ambiente úmido e sombrio.Comum se ver o contraste das grandes folhas desta Cattleya em meio as folhas menores da vegetação de restinga, de longe se percebe este contraste. Numa restinga em especial do litoral fluminense, observa-se também a C. intermedia cohabitando o mesmo ambiente e em consideráveis populações

 C. intermedia vegetando na areia fina com matéria orgânica em
ambiente de restinga, divide com C. guttata o mesmo
vento úmido do mar, se retiradas do bioma, não
repetem então o quadro de aparente robustez
 biológica em cultivo padrão, são em
verdade ávidas de luz e ventilação
constante, nem o sal da maresia
 é fator limitante, nessas fotos
 podemos antever a rude
 natureza dessas plantas
 de flores tão belas e
 famosas.

 Aqui chamaremos estes exemplares pelo nome popular que os orquidófilos lhes deram como alcunha: "guttatona". Sendo assim, são prontamente diferenciadas pelo nome das C. guttatas das matas, que apresentam-se muito menor em porte. No RJ se fazia diferenciação no meio orquidófilo entre estas portentosas e desajeitadas plantas das restingas e as "guttatinhas" da mata serrana,  que por comparação, são bem mais delicadas e menos floríferas. As flores das plantas de restinga eram comumente mais escuras e muito perfumadas nas horas mais quentes do dia, enquanto as das matas tendiam ao verde com pintas, a projeção do labelo, em ambas, mostrava-se igualmente estreita, repetindo a  morfologia típica da espécie.

 
 
 
 
 
 
 

No ambiente árido das restinga as Cattleyas guttatas
vegetam junto com cactos sob o sol inclemente,
o vento frio do oceano dissipa o calor,
refrigerando as folhas, se juntarmos
o rosto às folhas das orquídeas
veremos que estão frescas,
sem o vento, em nossas
casas, morrem todas
queimadas de sol
em pouco
tempo.

Abaixo a popularmente conhecida "guttatona", reconhecível pelos seus pseudobulbos mais estendidos, bem mais robustos que o padrão da espécie, e coroados às vezes com 3 grandes folhas. Apresentam inflorescências com dezenas de flores de pequenas dimensões, apostando evolutivamente mais nas no número do que no tamanho das flores.



Este detalhe torna-se então uma importante característica de distinção entre as duas espécies aqui consideradas: guttata tem flores de cor e forma variadas, porém de pequeno porte em relação à leopoldii.  Esta raça mais robusta é encontrada nas extensões de planícies arenosas litorâneas, surgidas em eras quartenárias, dispostas no litoral da Região Sudeste.


Deste o litoral norte de São Paulo, onde ocorre em terrenos arenosos e nas florestas inundadas próximas a costa, porém em exemplares de porte normal, até surgirem as vigorosas touceiras que ocorrem  apenas nas grandes restingas de vegetação baixa, mais ou menos na altura do peito , desde da Marambaia no RJ até Comboios no ES, quase no sul da Bahia, talvez um pouquinho além.

 


d)  No restante das áreas de Mata Atlântica da Serra do Mar, ainda conservadas, de São Paulo até Sergipe, onde deveria haver somente C. guttatas  clássicas, surgem exemplares que se parecem com C. leopoldii, sem contar Minas Gerais, onde aparentemente apenas existe a C. guttata clássica na Zona da Mata. Observa-se então nessa extensa região florestal da Região Sudeste sob influência da umidade do mar , uma série considerável de grupos populacionais intermediários entre as duas espécies aqui discutidas. É nesta distribuição geográfica, mais especialmente no RJ, ES e no já citado litoral sul de SP, que surge o cerne da confusão que aqui exibimos, os indivíduos que misturam características das duas espécies nos surpreendem,  deixando-nos a mercê da imaginação sobre os padrões regionais e também sobre a perfeita dimensão da segregação de raças/formas/fenótipos da C. guttata, que mostra-se sempre muito rica e variada. Formam um quadro natural  algo  complicado de se entender, tratamos aqui como sendo uma população realmente complexa, quanto mais se observa  menos se entende, somente estudos amplos em herbários e identificação de DNA, poderiam mostrar um quadro de distribuição mais claro e científico. Em C. guttata, o purismo  de formas que deveria acompanhar uma espécie estável e mais homogênea desaparece, tem-se a impressão, que pela evidente mistura, sem nenhuma lógica aparente, de características morfológicas, só poderiam formar o que se entende em Botânica como sendo uma superespécie de população ampla, com muitas raças ou variedades surgindo em complexo mosaico de distribuição geográfica. Estariam segregando-se livremente, consoante a adaptação à variação de ambiente, incluso nisto o polinizador, e por isto sem muita paridade geográfica reconhecível. Acredito que a razão para tanta variação, repouse na grande área de distribuição desta espécie, nos diferentes habitats que conquistou, no seu rápido crescimento vegetativo. São como os humanos, variados e adaptáveis, caóticos e miscigenados, mas ainda assim uma só espécie.


 O surgimento de exemplares e populações intermediárias, em várias regiões da
Serra do Mar , criam grande confusão sobre a distribuição geográfica
de Cattleya leopoldii , e sobre a determinação de sua evidente
miscibilidade com a ocorrência de C. guttata.
Será que acima temos um exemplar 
de cada  espécie, o leitor 
saberia distingui-las?

A segunda parece uma C. leopoldii clássica.
A primeira pode ou deve ser guttata
muito parecida com  leopoldii
C. guttata típica, nem uma
nem outra é, são de
cepas fenotípicas
diferentes do
padrão mais
comum da
espécie.

Não sei como algum oportunista
botânico ainda não se mostrou
disposto a criar uma nova
espécie, intermediária a
estas duas,  criando
assim mais dúvidas
e confusão.

Basta escrever um artigo
bem armado e deixar
o fermento natural
da especulação
e da novidade
agir sozinho.


e) Em um passado de 200 anos, quem sabe, talvez existissem Cattleyas leopoldii ou guttata até em Pernambuco. Existe evidência antiga da possível existência de uma destas Cattleyas na parte mais alta - cerca de 500-1.000m - da Região Nordeste mais setentrional. A ocorrência está subsidiada no surgimento de um único e histórico exemplar encontrado na natureza nordestina. Seria este indivíduo provavelmente um cruzamento natural de C. labiata como uma outra Cattleya bifoliada, foi descrito na Europa como C. victoria-regina O'Brien. 

 Uma misteriosa população de C. guttata pernambucana
 que só existe nos antigos livros do Séc. XIX
.

 
Teriam confundido C. tenuis ( acima )
com C. guttata ou leopoldii ?

Devido à aparência da C. victoriae-reginae, um típico híbrido de guttata, ou por alguma outra população existente naqueles tempos, que hoje  desconhecemos, suscitou-se então a hipotética existência naquela região de uma descrita e ilustrada C. guttata var. pernanbucence. A hibridação em questão, que lembrava mais as características morfológicas de leopoldii, e realmente parece mesmo ter estes progenitores, poderia ser em verdade uma hibridação com as Cattleyas tenuis ou granulosa; uma vez que nunca foram localizados exemplares de guttata/leopoldii por lá em tempos mais modernos. A margem esbranquiçada no labelo da ilustração de C. victoria-reginae, abaixo disposta, remete-nos imediatamente para a C. tenuis, espécie que apresenta esta característica como uma variante relativamente comum. Mais recentemente, a descoberta de C. leopoldii em Sergipe - leia mais abaixo - mostrou que poderia haver algum fundamento na história antiga. Cattleya labiata foi muito abundante na vizinha Alagoas, seus melhores clones são oriundos de Município de Quebrângulo, e se existe C. leopoldii em Sergipe, então esta possibilidade passada de coexistência entre esta espécie e labiata em Alagoas ou Pernambuco merece registro no desenvolvimento do presente tema.

Ilustração do exemplar clássico mostra-se
de cores cálidas, floresceu na Europa.
Os híbridos de guttata são
bem mais escuros e de
cores fortes.


Acima um híbrido artificial que repete a  genealogia
 C. leopoldii x C. labiata. Será que poderia haver
populações alopátricas de leopoldii ou guttata
no mesmo habitat da C. labiata ?


f) Inserida nesta confusão, embora já como uma clássica espécie válida e totalmente distinguível, vegetando em área determinada e conhecida, e sem a companhia das duas espécies aqui consideradas, está a belíssima e baiana Cattleya amthystoglossa . Está espécie é muito afim de guttata e leopoldii, pertence a esta mesma genealogia ancestral,  tanto que foi originalmente descrita como C. guttata var. prinzii, e depois de melhor estudada, foi promovida, em 1862, à condição de espécie, com o epíteto que ostenta atualmente. Essa espécie passa longe da confusão, assiste soberana à temática identificatória do resto do grupo familiar, mas pode nos fornecer contribuições para o entendimento das duas espécies confusas.


 
Sob o ponto de vista vegetativo, esta espécie de porte avantajado lembra de pronto as grandes plantas da " guttatona " das restingas, também no grande número de flores por haste em alguns exemplares, e na floração de espata seca, nas fotos aparecem exemplares onde se vê a espata seca e até uma flor ainda presa nela, mostrando que esta característica é sim muito importante do ponto de vista fisiológico e natural. Todavia a morfologia floral, muito bonita diga-se de passagem, está mais próxima ao maior tamanho floral e da melhor forma  de C. leopoldii, sendo em fato até muito melhor em forma técnica do que esta.

Interessante notar que a distribuição desta espécie baiana é marcadamente interiorana, ao contrário das duas espécies aqui analisadas, que apresentam um perceptível implemento populacional com a proximidade do mar, com C. amethystoglossa esta tendência não ocorre. É uma linda espécie, das mais belas do Brasil , a planta vegetativa é meio desajeitada, grande demais e pouco composta em vasos e no cultivo em geral, mas no quesito flores, é uma das Cattleyas bifoliadas mais atrativas.

A C. amethystoglossa apresenta uma excepcional forma técnica floral para o conjunto da espécie em geral, diria que é incomparável no grupo das Cattleyas bifoliadas, imbatível em número de indivíduos oriundos da natureza de ótima compleição de pétalas e sépalas, cor e perfume; apenas  a C. loddigessi guarda alguma similaridade, também exibindo a mesma  boa qualidade de aspecto floral disseminados na população.


 
g) E para complicar ainda mais essa confusão toda, podemos lançar mão de um outra origem para explicarmos como se  modificam alguma populações regionais: a hibridação casual, natural e sequencial, e a consequente miscigenação de gens entre espécies diferentes. Neste caso surgem então populações alopátricas algo diferenciadas do padrão normal destas espécies aqui em discussão, devido principalmente ao isolamento geográfico Essas populações apresentam-se sem mestiçagens imediatas muito evidentes, todavia portam características residuais de outras espécies, já bem diluídas, mas ainda elucidativas desses sucessivos aportes de novos gens, ocorridos muitas vezes em ocasiões já ancestrais.


Acima quatro exemplares que muito bem poderiam passar por boas
C. leopoldii, mas são Cattleyas resplendes, híbridos artificiais
entre as C. leopoldii ou guttata e a C. schilleriana, e que 
também ocorreram naturalmente em alguns
 locais do Estado do Espírito Santo.

Interessante perceber que a hibridação
entre espécies pode estar ligada à
origem e no cerne de toda esta
difícil compreensão do
quatro natural de
ocorrências.

Essas mesmas variações regionais, híbridas
e confusas, ocorrem com outras Cattleyas,
como walkeriana, bicolor e nobilior;
todas com grandes áreas de
 ocorrência e grandes
populações.



 A Superespécie e a confusão
dos orquidófilos




 
Antes da confusão ser exposta vamos despertar a percepção
do leitor para os necessários modelos básicos: a primeira foto
acima é de C. guttata, a segunda de C. leopoldii, ambas
em configurações clássicas. A terceira foto é de uma
C. guttata com muitas características de leopoldii.
Este terceiro indivíduo é intermediário, uma
forma de guttata que se confunde com
leopoldii, botanicamente , somente
pela análise da flor seria próxima
 de  leopoldii, mas na prática,
 tem fisiologia e porte
  de C. gutatta.


Mostra tamanho floral e época de floração
 de C. guttata, e labelo e cores
de C. leopoldii.


Chamarei-a essa anômala
 de "leopoldinha".





Acima uma C. leopoldii  coerulescens que está muito
bem disfarçada de C. guttata. O oposto também
 pode acontecer: leopoldii que parece guttata.


Vamos aqui tentar mostrar o que é
possível  se estabilizar como
conceito botânico válido
nesta grande confusão
 que conduz só a
mais  dúvidas.

Pronto para
 a confusão?



A Cattleya guttata


 
 
 
Avalie nas diferentes flores acima a repetição das
 características aqui ressaltadas com sendo
típicas de Cattleya guttata.



Cattleya guttata varia bastante em tamanho vegetativo e em cores florais, contudo suas numerosas flores pequenas, cerosas e fragantes de cravo-canela nas horas quentes do dia, apresentam caracteristicamente a projeção do lóbulo mediano mais ou menos estreitada e bem destacada, em púrpura contrastante, do resto da flor. Estas características de forma e proporções respondem pela pronta identificação de uma grande maioria dos exemplares espalhados pela natureza da Mata Atlântica, e portanto são fatores consolidados de reconhecimento dessa clássica espécie. Reparem nas fotos que existe significativa variação  geral de aspecto, mas coluna fica mostra-se mais curta que o labelo e disposta em tal ângulo que sempre mostra-se pouco visível. As flores saem de espatas secas, e isto fisiologicamente é muito significativo: após o fim do crescimento do vigoroso pseudobulbo, durante o fim da primavera e o início de verão, surge a espata, a planta aguarda então o início do outono para florir, neste espaço de tempo a espata resseca. Já a C. leopoldii cresce vegetativamente do mesmo modo, mas floresce logo em seguida ao fim da primavera ou no início do verão, não aguardando uma outra estação para florescer, e as espatas mostram-se ainda verdes no momento da floração, reparem que este detalhe é  muito importante distintamente.

Cattleya guttata em ambiente
de Mata Atlântica.

Trata-se de uma espécie que habita vários biomas brasileiros,
e que desenvolveu algumas formas naturais diferentes, e que
 seguem um padrão mais normal em alguns locais
 e mais caótico e miscigenado em outros.
 Surge então uma superespécie,
 muito rica em variantes.


Estas muito belas Cattleyas guttatas das fotos de cima são oriundas provavelmente da região ou das proximidades do Estado do Espírito Santo, nesse estado da federação a espécie singularmente segue os cursos dos rios e se aprofunda muito mais pelo interior. Magnificamente cultivadas no Orquidário Calliman, esse orquidário parece um sonho, um verdadeiro céu das orquídeas, dão ótimo comentário sobre a confusão aqui discutida. Estes exemplares apresentam flores bastante variáveis, algumas bem grandes e fortemente coloridas, a projeção mediana do labelo  até que mostra-se bem larga na maioria, estreitas como no padrão da espécie não são, o ângulo do labelo é também mais perpendicular, estes detalhes poderiam de pronto levantar a suspeita de serem C. leopoldii, como a primeira e a terceira fotos da série. Todavia a coluna fica quase que totalmente oculta dentro do labelo, não se vê o que aqui chamo de "dentinho" (veja abaixo), algumas plantas apresentam 3 folhas por pseudobulbo e as flores saem de espatas secas, mostrando na foto, que trata-se mesmo de um lote de C. guttatas. As pétalas são excepcionalmente largas e pouco pontiagudas, fugindo do padrão em C. guttata, mas também não vão ao encontro das características de C. leopoldii, por não apresentarem-se onduladas e menores do que as sépalas proporcionalmente. Precisamos sempre considerar as características em conjunto, atentar para a época de floração, a observação completa é necessária para ajudar no prognóstico de determinação botânica.


Resumindo: são guttatas muito
 boas e até parecem leopoldii





A Cattleya leopoldii


De início vou dar uma dica  bastante eficiente para a maioria dos casos de
 distinção entre guttata e leopoldii, é um olhar muito particular meu 
diante desta confusão toda. Devido ao ângulo mais perpendicular
 que o labelo de C. leopoldii tipicamente apresenta, a cápsula
que guarda as polínias, na ponta da coluna, fica muito
visível, quase fora do corpo do labelo, forma a 
ilusão de um "dentinho"; se o exemplar 
analisado apresentar a característica,
é quase certo ser leopoldii.

Repare no dito "dentinho" nas fotos acima, e compare com 
as outras fotos abaixo, todas têm o dentinho bem
visível, como esta característica tem relação
com o polinizador e com a fecundação
do fruto, mostra-se então como um
importante detalhe diferencial. 

Em C. guttata, a coluna é mais curta 
e o ângulo do labelo em relação
ao plano floral é bem menos
perpendicular, não sendo
 tão visível o detalhe
do "dentinho".

Depois da primeira dica, atente para a segunda
 dica: as pétalas são, ou  costumam ser,  algo
menores e bem mais onduladas que as
 sépalas na C. leopoldii.


"Muitos taxonomistas consideram a Cattleya tigrina, e em decorrência, também a Cattleya leopoldii, como sendo apenas sinônimos da Cattleya guttata, da qual seria apenas uma variedade de maior interesse horticultural, cuja permanência como espécie autônoma é perpetuada mais por hábito dos colecionadores do que por diferenças de comprovação científica." 

 excelente texto da Wikipedia.

São descrições pontuais de populações
complexamente parecidas e muito 
variáveis, até o ponto de 
serem  de muito difícil
distinção.

 
Uma boa nova espécie, o que é bem o caso da C. leopoldii típica, se apartada de outra por razões de segregação preponderantemente geográficas, caracteriza-se geralmente pelo fato de fazer predições que podem, em princípio, ser contestadas ou falseadas pela observação das populações naturais intermediárias. Sempre que novas experiências concordam com as predições, a espécie definida pela observação humana sobrevive, e a nossa confiança nela aumenta; mas, se novas observações surgem para causar desacordo, temos de abandonar ou modificar o conceito proposto para aquela espécie. Pelo menos, é o que se supõe que deva acontecer, contudo podemos sempre pôr em dúvida a competência da pessoa que efetuou a observação. Geralmente a profundidade da dúvida, e os grandes esforços necessários para saná-la, tendem a desmotivar novos estudos e a confusão assim permanece embalsamada por gerações.


Cor varia muito, também existem exemplares de
 C. leopoldii esverdeados e mais claros,
porém a forma se mantém
bem característica.

O dentinho continua
bem visível !


C. leopoldii produzida comercialmente em orquidários, filha de matrizes
selecionadas, mostra forma perfeita , reparem na recorrente
frontalidade da coluna e do labelo, forte característica
de distinção desta espécie em relação à C. guttata.

Como anteriormente já exposto acima , existe de fato uma subespécie/variação/raça/forma (?) geográfica de C.guttata, conhecida como C. leopoldii, que tornou-se hegemônica nas serras litorâneas sulinas, encontradas principalmente em altitudes de cerca 200m, como a distribuição da C. guttata termina no extremo norte do litoral de SC, esta população tão distinta passou a ser percebida e tratada como outra espécie. Dessa região norte de SC até a RS, sempre pelas matas de fachada atlântica, existe então esta vistosa e atrativa subespécie de flores maiores e mais escuras, com a projeção do lóbulo mediano bem mais larga e atrativa ao polinizador. Este é o conceito de reconhecimento para esta população que se convencionou  chamar, mais tarde e sob alguma celeuma botânica, de C. leopoldii.

 
 "Leopoldão"

Como essa população/variedade não coexiste nessas regiões sulinas, e já subtropicais do país, com a  clássica C. guttata, despertou-se  então a  natural ideia que seria uma espécie já bem apartada. Percebe-se assim uma substituição, um desenvolvimento à parte, uma sub-especiação, passível de reconhecimento botânico, derivada provavelmente da transição para a subtropicalidade. Quanto a esta população sulina, ainda há grandes dúvidas de avaliação, mas poucas discussões sobre o seu já histórico e notório status taxonômico  como espécie independente. O tempo passou e C. leopoldii tornou-se notória na orquidofilia devido aos seu traços morfológicos mais vistosos e atrativos que sua prima menos perfeita.


 C. leopoldii:  estes exemplares  de porte avantajado do
 Sul do Brasil são chamados de " leopoldões"; são
 de grande beleza, flores mais  escuras, boa
 forma e por isto  muito apreciados.

Até este estágio de compreensão, entende-se então que a mudança de habitat e clima nas regiões subtropicais, provocou uma adaptação e fez esta população meridional se diferenciar. A população sulina  tem características homogêneas e podemos caracterizá-la facilmente em comparação com a C. guttata clássica, posto que são de fato singulares e distinguíveis quando floridas. Se é espécie, subespécie ou variedade é uma questão de ponto de vista, de profundidade ou rigor de análise sistemática, pouco importa.


As dúvidas taxonômicas realmente importantes estão
nos exemplares de fora desta região, é mais 
ao norte que tudo fica confuso.
Veremos isto mais abaixo !

 
 Os orquidófilos do Sul defendem a validade da espécie local alegando que seu porte floral é avantajado, só apresenta normalmente duas folhas em cada psudobulbo, guttata pode apresentar três folhas; as flores mostram-se muito escuras, também muito perfumadas, e têm quase o dobro do tamanho, em relação às flores de guttatas. A época de floração difere nas duas espécies: é ainda primaveril, sendo mais precoce em leopoldii (NOV/DEZ) do que em guttata (MAR). Esta é  uma das principais diferenças aparentes que distinguem estas espécies. Por si só não seria motivo para separação, mas é um dado a mais quando existem outras diferenças mais significativas. De fato, vistas em suas formas extremas, as duas espécies são até de fácil distinção, o problema são os exemplares intermediários, estes causam a confusão na determinação da distribuição geográfica de populações de leopoldii mais setentrionais, que aqui chamarei de "leopoldinhas".


 C. leopoldii deveria apresentar, como está exposto nas ilustrações botânicas
mais acima, a projeção frontal do labelo notadamente fendido no meio,
todavia esta característica não é constante, e também aparece algo
acentuada em C. guttatas. Acima e abaixo alguns exemplares que
mostram esta característica de C. leopoldii, avaliação para
a determinação botânica  de exemplares , a depende de
 detalhes que às vezes não aparecem
 em conjunto; fica bem complicado.

Várias plantas de C. leopoldii  floridas no habitat, esta visão
mostra-se bem característica, posto que foi exatamente
assim que também as vi estabelecidas em
Santa Catarina.; são 6 exemplares
 em flor na majestosa
figueira nativa.



Acima umas  "leopoldinhas" das matas setentrionais
do Brasil a fora...são estas as que fazem a
grande confusão com as guttatas.


São flores pequenas como as de guttata,porém
com morfologia mista apresentando alguns
caracteres singulares à Cattleya leopoldii,
mostrando que existem várias raças
intermediária ao longo da vasta
área de distribuição no país.

São absolutamente confusas e mostram-se
indetermináveis, é preciso que se dê
peso de distinção a determinados
caracteres  florais para
que se possa dar
determinação
botânica.


Parece-me uma C. guttata, mas
apresenta detalhes de "leopoldinha".

Alguns jogam essas plantas
intermediárias na natural
variabilidade das
guttatas.

Guido Pabst considera-as como sendo 
a variação de guttata 816A , estas
provavelmente são de menor
porte e de floração outonal,
veja nas ilustrações logo
 no início  desta
 discussão

Época de floração, número de folhas
por pseudobulbo, coluna exposta
em ângulos diferentes, tamanho
da flor e largura da projeção
do lóbulo mediano do
labelo  são os bons
diferenciais.



 C. leopoldii sergipana.

Para bem exemplificar esta imensa confusão, vamos voltar ao ano de 1986, quando li na revista Orchid Digest o seguinte e desconcertante artigo: Cattleya leopoldii in Hardwood Copses in Sergipe Fowlie, J. A. 50/3 , quando li no índice o tema do artigo, eu não acreditei:  leopoldii em Sergipe??????? Será????

Eclésio de Holanda Cavalcante e seu mateiro, com C. leopoldi em mãos,
oriundas das matas sergipanas de certa  altitude, na fronteira de 
Sergipe com a Bahia , não se tratava de guttata como pensei 
primeiramente, era mesmo a C. leopoldii.

 Região serrana com 400-500m de altitude, entre Sergipe e Bahia, 
a fronteira está marcada em linha azul clara; também
conhecida como Serra Grande de Lagarto.

Mata com orquídeas em Riachão dos Dantas - SE

 

Acima duas ótimas fotos das "leopoldinhas" sergipanas nos dão panos para manga, vamos vê-la com olhos clínicos de botânico: vegetativamente o exemplar da foto do mateiro tem o mesmo porte das C. guttatas da Mata  Atlântica do Paraná, Embora as "leopoldinhas" sergipanas tenham alguns traços de C. guttata, são de morfologia intermediária entre as espécies aqui  consideradas, as flores tem a projeção de labelo não estreitadas, mas ainda dentro dos limites de   C. guttata,  mas no conjunto, apresentam alguns dos mais importantes  detalhes morfológicos de C. leopoldii.

Inclusive o
 "dentinho".



Essa ocorrência nordestina dá  noção do
tamanho da ocorrência e dos problemas
de identificação. Seria a mesma
 espécie do Sul do Brasil?


A confusão está exposta, ainda não consigo
distinguir  sempre sobre as duas espécies
 aqui em discussão com segurança
plena, mas ao menos o caso
está comentado
com paixão.

Caso Complexo C: 

pumila X praestans

et caterva




 Acima as graciosas Laelias pumila e praestans,
 são primas bem próximas e parecidas,
por isto podem mostrar-se algo
confusas para os leigos e
orquidófilos neófitos.

Este par de espécies aparentadas são bem mais fáceis
 de serem distintas do que nos dois casos anteriores,
 do ponto de vista botânico, podemos
afirmar, que são totalmente
 distinguíveis em duas
boas espécies

Não se trata de
 uma confusão
botânica.

Trata-se apenas de
falta de informação.









 
Laelia pumila [Hooker]Rchb.f 1853-4 é
 uma espécie clássica na Orquidofilia.



Laelia praestans Rchb. f. 1857





Respectivamente : Laelia pumila e L. praestans,
nem são tão parecidas assim, mas são
espécies bastante confundidas.

Secas num herbário, pumila e praestans, espécies aqui consideradas,
são praticamente iguais, o que já conduziu à decisão botânica
 de se mantê-las na mesma espécie, porém em subespécies
distintas, localizadas em distribuições espaciais
separadas, não havendo portanto maior troca
 de material genético entre as duas
populações naturais no
ES e em MG.

Muitos enganos de área de distribuição
 geográfica devem-se a esta
característica.

Se vistas ainda vívidas
são então de muito
 fácil distinção.

Já há consenso geral em
mantê-las  como duas
espécies plenas.


Nesta outra comparação entre espécies surgem melhores 
contrastes, entre pumila x sincorana percebemos
 logo as evidentes diferenças de forma  na
comparação entre  flores destas
espécies também afins.

Contudo, a adaptação ao clima das montanhas baianas, sujeitas
 a poucos períodos úmidos, fez o aspecto vegetativo de
da L. sincorana tornar-se muito mais crasso e
 rude  do que o de L. praestans
e L. pumila



L. pumila é uma espécie elegantíssima, muito usada em hibridações
para reduzir o porte vegetativo da nova geração sem perder
a abundante floração e a beleza das flores e do conjunto.
  
É a alegria do ilustrador !


Pela característica área mais fortemente colorida em volta do labelo,
foi também batizada de Cattleya marginata, mas prevaleceu
  o nome atualmente tornado clássico para a espécie





 Temos que começar os comentários sobre este novo caso de espécies parecidas pelo desagradável caso da troca de nome científico das plantas.O que antes eram espécies do gênero Laelia por apresentarem oito polínias pequenas por flor , diferenciando-se assim das espécies de Cattleya que apresentava quatro polínias grandes, agora, devido à análise do DNA, e ignorando o que os olhos enxergam, transformaram-se todas em Cattleyas.
 
 

Surgiram então, vindas tristes dos sertões, uma legião de novas Cattleyas e ex-Laelias, entre elas estão as Cattleyas pumila e praestans, antes Laelia pumila e praestans; tendo em vista as buscas na internet, a história da orquidofilia e a minha revolta pessoal contra botânicos vaidosos e em busca de notoriedade, vamos continuar adotando os nomes consagrados. Os nomes tem conteúdo ou significado prático em latim: pumila significa pequena, e praestans remete-se ao significado de distinta ou distinguível.

As espécies deste grupo não apresentam espatas, os botões
florais se desenvolvem  protegidos dentro das folhas
 dobradas, e amadurecem praticamente ao mesmo
 tempo que os pseudobulbos e folhas.


Laelia pumila.


 Laelia praestans.


Se são bem parecidas e confusas para o leigo,
  para o olhar treinado são muito fáceis
de serem distinguidas.

Os labelos são bem
 diferentes.



Et caterva cognatis...
as outras Hadrolaelias:


 Laelia pumila, L. praestans, L. dayana,
L.sincorana, L. alaorii e L. jongheana

Distribuição geográfica esquemática,
teórica ou histórica, o quadro
atual é desconhecido.


Estas duas espécies parecidas e aqui comentadas, pertencem à Seção Hadrolaelia, taxon caracterizado pelo pequeno porte das plantas e pela ausência de espatas florais. Quando a folha única de cada pseudobulbo se abre, o botão floral  já está formado e protegido dentro dela, portanto nessas espécies o crescimento vegetativo culmina com a imediata floração. Dentro desta seção botânica podemos afirmar que as Laelias pumila, dayana ( ou bicalhoi ) e sincorana são bem afins, e praestans e alaorii  mostram-se algo similares. L. jongheana, a maior em porte do grupo, é a parte e  já bem diferenciada.e muito mais ornamental, uma  das mais belas e portentosas espécies de orquídeas do Brasil, muito atrativa e elegante.

 L. jongheana fica melhor se cultivada 
montada em madeira ou
cascas duráveis.

 Já tentei cultivar, sem sucesso, todas estas espécies de Hadrolaelias, são muito difíceis de prosperar no clima curitibano, a L. jongheana ainda foi  muito bem por um tempo, enraizou e floresceu bem, numa onda de frio mais forte, com geada leve, feneceu na noite fria, estava protegida por sombrite, mas mesmo assim ressecou por completo. Foi a única planta, entre tantas orquídeas que tenho no terraço, que morreu queimada de frio, as centenas de plantas ao lado não apresentaram qualquer dano, a espécie aprecia as altitudes mineiras em função da umidade e ventilação, do frio não gosta. Comprei oito L. pumilas de sementeira do Orquidário Binot, lindos seedlings me enviaram, morreram todos devido ao clima inadequado,  gostam de mais calor, enraízam apenas em madeiras duras; também os híbridos de Hadrolaelias  que adquiri não foram à frente, desisti dessas plantas enjoadas, são lindas mas não são para serem cultivadas aqui..



 Plantada num enorme nó-de-pinho, minha L. jongheana
logo prosperou no estufim, posta no terraço ao ar livre
 em Curitiba, também reagiu bem, até que uma noite
congelante destruiu a planta, estranhamente só
este exemplar, entre  tantas outras espécies,
se ressentiu do frio intenso.

 Outras plantas de climas mais quentes
 como Laelias crispa e perrinii,
igualmente expostas, nada
 sentiram !

Só a preciosa L. jongheana
queimo-se por completo,
 num frio de 3°C.

Deixou dolorosas
 saudades.


Em um orquidário comercial aqui de Curitiba, uma sementeira de L. jongheana apresentou grande dificuldade de cultivo e recusava-se a crescer, o dono contou-me que estava impressionado com a complexidade do cultivo por aqui. Geralmente seedlings de qualquer espécie, em sementeira comercial, costumam crescer muito bem, quando expostos ao que se chama "condições de Cattleyas", condições médias de cultivo, comum em quaisquer estufas e telados onde existem cultivos deste tipo de orquídeas. As demandas ambientais começam a surgir normalmente lá pelos 5-6 anos de idade, quando algumas sementeiras simplesmente param de crescer na ausência do clima específico requerido, em Hadrolaelias as demandas parecem ser muito mais precoces.


Laelia alaorii é a espécie mais afim
 de praestans, o labelo é similar.
 Laelias sincorana e dayana ( bicalhoi ),
 são próximas de L. pumila.

A encantadora e rara Laelia jongheana apresenta o
 labelo fortemente lamelado e diferenciado.
Linda planta , alegria dos olhos.


As espécies deste grupo habitam apenas algumas serras e
vales de altitude de MG-RJ-ES e BA, somente L.alaorii
 surge em áreas mais baixas. L. jongheana medra
 em grandes altitude, apreciam todas elas
climas mais amenos, as ditas
condições de Cattleyas,

Todavia se mostram-se sensíveis e desabituadas
aos extremos de temperatura, toleram bem os
 extremos de umidade, sendo que sincorana
 e jongheana necessitam de boa aeração
 e também de época de estio invernal
bem marcado, em climas quentes
e sem ventilação logo ficam
tomadas de pulgões.
Fenecem logo onde faz frio
 congelante ocasional ou
ondas de forte calor.



Devido ao seu usual aspecto ressequido, L.sincorana
mais parece uma valente crassulácea africana
em plena Bahia. A altitude elevada em que
medra mostra que não aprecia calor
e abafamento, a neblina noturna
sustenta de umidade esta
bela espécie de Laelia.

Laelias sincorana e jongheana, ao contrário
de  pumila, dayana e praestans, são
 distintas até sem flores.




L. praestans  cultivada no Orquidário Chácara Suiça
em Curitiba, todas as Hadrolelias vão melhor
se plantadas em cascas grossas ou ripas
de madeira pesada e durável.

Pelo que pude perceber, gostam
de dias quentes e úmidos
para poder crescer,
porém a noite
deve  sem 
amena.

Frio só até
8-10°C.




A Fácil Diferenciação.




 Laelia praestans:
As sépalas e pétalas  de L. praestans são, às vezes, mais largas e cofiguram 
uma forma técnica muito melhor do que em L. pumila;  embora não 
seja esta uma característica constante, o amarelo no tubo 
do labelo também mostra-se um indício desta bela
espécie, L. pumila também apresenta este
mesmo amarelo, ocasionalmente.


O labelo de praestans é rotundo, enquanto o
labelo de pumila tende claramente
para o quadrangular .


 O labelo de L. praestans é muito característico:  como se vê nas fotos acima,
apresenta um claro overlaping (acavalamento, avanço, aposição),
 dito às vezes em orquidofilia como um "encharutamento",  na verdade
trata-se de uma sobreposição das margens do labelo, que
gera um aspecto típico de papel enrolado.



A vista lateral do labelo de L. praestans nos mostra um
acentuado perfil sigmóide, uma barriguinha como
 se diz no jargão orquidófilo, que a diferencia
 imediatamente da Laelia pumila padrão.



Curva sigmóide.

Perfil sigmóide em L. praestans.



 Acima vemos o perfil floral de L. pumila, sem a
característica curva sigmóide de L. praestans.


Em L. praestans as duas lamelas mais exteriores são um
 pouco mais evidentes no tubo amarelo do labelo,
mostrando-se assim um outro carácter próprio,
 em L. alaorii  o detalhe apresenta-se mais
 desenvolvido e evidente, mostrando
alguma similaridade.






 Laelia pumila:





A Laelia pumila  é totalmente diferente no seu aspecto floral, sem flores
é difícil distinguir as duas espécies , as plantas são muito parecidas;
mas floridas , o tubo esbranquiçado e o plano inclinado
 das sépalas e pétalas acompanhamdo a projeção
do labelo, deixam claro que se trata desta
famosa espécie mineira e capixaba.

O aspecto de L. pumila  é bem diferente do de L. praestans, intermediários
podem surgir e criar alguma dúvida, mas logo perceberemos para
qual dos dois grupos biológicos o exemplar pende, são grupos
aparentados. As fotos  mostram que gostam de substrato seco, 
o excesso de umidade e sombra são fatais no cultivo
 destas espécies de Hadrolaelias.

Nas fotos acima ????



Acima temos dois exemplares de variedade coerulea ( cinza-violeta algo azulado),
um de cada uma das espécies aqui em discussão, após as explicações,
o caro leitor já teria plenas condições de determinar as espécies.


Click aqui e
 acesse

 PARTE III 
ou
PARTE I






5 comentários:

  1. Boa tarde.
    Infelizmente somente três anos depois de sua publicação eu obtive o link.
    Muito boa matéria sobre o caso das C guttata e C tigrina.
    Escrevo apenas para atestar a existência na região de Mongagua/Peruíbe litoral sul de São Paulo, das duas especies (guttata e tigrina) com as devidas características principais (guttata esverdeada azeitona, canela alta, labelo estreito e com ausência de perfume; e a tigrina com seus labelos largos, mais avermelhada, baixa e com forte aroma). Temos também uma hibrida(?) natural, em áreas com plantas que miscigenam várias destas características. A questão da instabilidade genética é verificada na floração, pois existem plantas que apresentam até sete pétalas e dois labelos. Posso lhe enviar um exemplar da flor se considerar necessário.
    Posso confirmar também a existência da C tigrina na região bahiana da cidade de Santo Antonio de Jesus, pois uma pessoa conhecida já obteve varias plantas. As características principais desta "família" bahiana estão na forte coloração avermelhada, fortíssimo aroma e bulbos mais atarracados, gordos, com até 50 cm de altura. O labelo é o costumeiro largo e frizado.
    Grande e fraterno abraço.

    joselourencoares@yahoo.com.br

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  2. Parabéns, publicações de grandes relevância para o tema!

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