VVVVVV>&&&&&%gt;gt;>>>>>>>>>>>>>>>>>"Ver e ouvir são sentidos nobres; aristocracia é nunca tocar."

&&&&&&>>>>>>>>>"A memória guardará o que valer a pena: ela nos conhece bem e não perde o que merece ser salvo."


%%%%%%%%%%%%%%"Escrevo tudo o que o meu inconsciente exala
e clama; penso depois para justificar o que foi escrito"


&&&&&&&&&&&&&&;>>gt;>>>>>>>
"
A fotografia não é o que você vê, é o que você carrega dentro si."


&
;>&&&&&>>>>>>>>>>>>>>>>&gt
"Resolvi não exigir dos outros senão o mínimo: é uma forma de paz..."

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"Aqui ergo um faustoso monumento ao meu tédio"


&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"A inveja morde, mas não come."


quinta-feira, 19 de maio de 2011

Paisagismo: Evolução no Brasil - Parte II - Séc. XX

.


Parque Redenção - Porto Alegre-RS.



Jardins art-déco do Palácio das Esmeraldas - Goiânia-GO.



Jardim de Burle Marx no Aterro do Flamengo - Rio de Janeiro.





Passado: é o Futuro, usado.

Millor Fernandes



"O verdadeiro significado das coisas é
encontrado ao se dizer as mesmas
coisas com outras palavras."


Chaplin




Nunca a vida foi tão
 atual como é hoje: 
por um triz já
 é o futuro.

Clarice Lispector





O eclético, e um tanto "bolo-de-noiva". prédio do Senado Federal,
 contrasta com o Passeio Público romântico de Glaziou
 ao fundo, novos tempos mostravam sua face.

Rio de Janeiro : Paris tropical.



Para ver a primeira parte desta postagem:


A Evolução do Paisagismo no Séc. XIX






1.3 As Luzes do Século XX



Sob o regime republicano, registram-se poucas modificações nos conceitos de paisagismo vigentes nos tempos imperiais. Surgido a partir da base criada por Glaziou e pouco modifica-se em quatro décadas, mantendo-se previsível e padronizado nesse período.




O novo regime exercitou seus primeiros conceitos estéticos na nova reforma urbanística da capital, comandada pelo Prefeito Pereira Passos, projetando as avenidas como um novo marco da riqueza e da modernidade do país. O centro histórico do Rio de Janeiro, poupado durante as reformas imperiais, seria parcialmente demolido, dando espaço a uma larga e moderna avenida, a Avenida Central, hoje Avenida Rio Branco, a nova via cruzaria o centro da cidade ladeada de novos edifícios públicos em estilos neoclássico e eclético.





Jardins da Praia de Botafogo - inspiração para muitas
outras obras nas décadas subsequentes.



Com a mudança de século, começam o paisagismo republicano e as grandes intervenções urbanísticas. A melhoria das condições tecnológica, a riqueza do café e da crescente industrialização permitiram maior vulto nas ações de desenvolvimento urbano. As iniciativas estatais também mostram mais músculos e determinação nos projetos, tornando-se sequenciais. A República foi muito mais suntuosa e gastadora do que a modesta monarquia anterior, talvez por isto Glaziou pareça menos refinado que Villon e Agache - talvez uma questão de orçamento à disposição !




Palacete da Rainha D. Carlota Joaquina em Botafogo - moradora famosa.



Botafogo sempre foi uma praia calma, bela e frequentada , tomou maior vulto quando D. Carlota Joaquina resolveu morar nesse então bairro distante. O imóvel foi comprado de religiosos beneditinos. Quando a rainha voltou para Portugal e lá faleceu, o palacete foi herdado por Pedro I, posteriormente foi leiloado, e então comprado e reformado pelo Marquês de Abrantes, ficava bem na esquina da rua que hoje leva o nome do antigo proprietário.





Acima a imagem do palacete  já reformado pelo Marquês de Abrantes
e na foto anterior o início do paisagismo da praia já perceptível.

Foi dessa casa, acima ainda vista nas imagens, hoje já demolida, que os embaixadores e outros dignatários estrangeiros, ao visitarem a rainha, admiravam o perfil curvilíneo do Pão de Açúcar. Nessa época esse cenário natural começou a ficar famoso. D. Carlota de Borbón tinha bom gosto e era decididamente uma mulher vanguardista. Enquanto D. João morava perto dos tórridos mangues de S. Cristóvão, ela já tomava brisas na Praia de Botafogo - bem longe dele.

 
A praia de Botafogo original , foto da coleção da Princesa Isabel,  a Urca ainda não 
havia surgido do aterro de 1925, e o Pão de Açúcar mostra-se com o costão rochoso.


A urbanização e o paisagismo da orla da capital começava no centro,
 passando pela Glória, Flamengo e terminava na praia de Botafogo:



Acima a Praça da Glória diante da famosa igreja.

A famosa Av. Beira-mar, no seu trecho da Praia de Flamengo - essa foi a primeira grande obra em terrenos aterrados praianos - depois dessa feliz experiência, outras tomariam maior fôlego .




No início do século XX, quando da administração do prefeito Pereira Passos (1902-1906), a orla da praia recebeu os jardins da avenida Beira-Mar, esses tiveram projeto paisagístico refinado e impacto cultural. Considero esse projeto um dos mais impressivos para a obra deste paisagista: as figueiras indianas ( Ficus retusa ), os chafarizes e a largura dos canteiros formaram um conjunto, até hoje, visualmemte muito agradável.



Um marcante projeto de Villon.



Urbanização complementar  modernista, após a demolição do palacete dito mourisco.

Ainda na primeira década do Séc. XX, o prefeito Pereira Passos, assessorado por uma excelente equipe, rasga a Av. Central bem no centro colonial da capital do país. A República já tinha pouco mais de dez anos de proclamada e as mudanças começaram a surgir, embaladas pelos efervescente ganhos econômicos proporcionados pela lavoura cafeeira, um firme ciclo de progresso, esse só iria ruir em 1930.








Um avassalador corredor de 33 m de largura chamado Av. Central . A destruição do patrimônio histórico foi considerável, a posterior abertura da colossal Av. Pres. Vargas continuaria a renovação urbanística do centro da capital, provocando ainda mais perdas de memoráveis prédios coloniais.




Museu Nacional de Belas Artes e a Biblioteca Nacional na Av. Central.



A emblemática nova via, onde rapidamente foram erguidos uma profusão de prédio e palacetes ecléticos, foi arborizada com nativos oitis (Licania tomentosa). Esta espécie tornaria-se referencial e depois continuou sendo extensivamente utilizada. Até mesmo Copacabana , o lugar da moda dos anos 40, ainda receberia a mesma espécie na arborização de suas longas avenidas.



Oitis e tipuanas começam a estabelecer suas sombras pelas novas avenidas.



Os governadores e prefeitos, visitando a capital federal, disseminavam a tendência em seus respectivos estados e cidades. Durante todo o primeiro período republicano, os exemplos das Avenidas Rio Branco e Presidente Vargas, no Rio de Janeiro, e da Avenida Paulista (1891) e talvez o da Avenida Brigadeiro Luís Antônio em S. Paulo, seriam seguidos em igual ou menor escala em todas as outras cidades de maior porte.



Centro do Rio de Janeiro em plena era da arborização.







Em São Paulo, o paisagista belga Arsênio Puttemans, é incumbido de ajardinar o Parque da Independência, em especial a área defronte do Museu do Ipiranga, optou-se pelo estilo dos jardins franceses, rompendo definitivamente com o romantismo vitoriano. Numa antevisão eclética de 1909, Puttemans promove uma ostensiva volta da formalidade paisagística francesa no importante monumento à Independência do Brasil.



Essa formalidade, posteriormente um tanto amenizada, seria também característica do jardim eclético de Alfred Agache. O gosto pelos chafarizes com amplos espelhos d'água iria prolongar-se até o art-decó dos anos 30-40.






Barbosa Rodrigues - diretor do Jardim Botânico do Rio - reforma o parque e aumenta a coleção de plantas vivas e abrindo-o à visitação pública, assim revigorando a centenária instituição.




Em visita ao parque botânico, Einstein fica impressionado com o porte de um jequitibá - Cariniana legalis - num gesto inesperado, o abraça e beija.



A princípio, a arborização dessas novas vias, consistia em árvores de porte elegante, principalmente o oiti (Licania tomentosa). No Rio de Janeiro, a palmeira imperial (Roystonea oleracea) teria a sua utilização ampliada durante a primeira metade do século, formando algumas paisagens urbanas tropicais imponente e internacionalmente famosas.




Não havia nenhuma outra obra paisagística tropical comparável no resto do mundo.



Na cidade de São Paulo, computava-se, em 1910, o total 23.427 árvores plantadas no centro da cidade. Plantava-se preferencialmente sibipiruna (Caesalpinea peltophoroides), pau-ferro (Caesalpinea ferrea var. leiostachya), figueira (Ficus retusa), quaresmeira (Tibouchina granulosa), manacá da serra (Tibouchina mutabilis), cássias (Senna spectabilis, S. multijuga, etc.) e ipê (Tabebuia sp.). No ano de 1908, na Avenida Tiradentes, plantaram-se 607 árvores, entre elas "Platanus orientalis, eucalyptus e andassú".





Paisagismo no Centro de S. Paulo.




Algumas espécies de pouco uso anterior como a tipuana (Tipuana tipu) e a munguba (Pachira aquatica) também firmam-se como árvores apropriadas para a arborização das recém surgidas metrópoles brasileiras.




Av. Paulista bem arborizada.



As cidades litorâneas celebrizam o chapéu de sol ou amendoeira ou, ainda, castanhola (Terminalia catappa) e o flamboyant (Delonix regia) como as árvores preferidas das proximidades da orla marítima.




Castanhola, Chapéu-de sol ou Amendoeira - Terminala catappa - excelente nas faixas de litoral.



A famosa Praça XI - berço do samba - eclética nos jardins, as curvas desaparecem e só voltariam com o modernismo. Atrás se vê o corredor de palmeiras do Canal do Mangue.







Alfred Agache - mais um paisagista francês,
este dá face à República Velha.


Praça Paris tornou-se um ícone paisagístico belle-époque.






A Praça Paris e o Palácio Monroe - sede do Senado Federal visto abaixo  -
 formaram um impressivo conjunto paisagístico cujo o charme franc~es
sobreviveu à demolição do palácio nos anos 70.


Na capital do país dos primeiros anos do século XX, a sociedade brasileira desejava mudanças, estas vieram a ser mais refletidas no espaço urbano do que na política do país A intenção era livrar-se do passado monárquico-colonial, importando um modelo cultural europeu, principalmente o francês, no intuito de atrair investidores com uma nova imagem de sociedade mais modernizada.






A praça começou a ser construída em 1926, findando em 1929, com projeto do urbanista francês Alfred Agache, durante a gestão do prefeito Antônio Prado Júnior. Esse projeto reproduziria o traçado e a elegância de um jardim parisiense, abrigando em seus espaços grande número de amendoeiras de grande porte, além de obras de arte e esculturas. Os chafarizes jogavam água a grande altura, promovendo um cenário inesquecível.





Assim a Praça Paris representou, no espaço urbano, o apogeu dessas mudanças, o projeto de Agache reprisou a Paris iluminista de Haussman com o estilo de André Le Nôtre.




Truque paisagístico usando o chapéu-de-sol ou amendoeira.






Como no tropical Rio de Janeiro não há grandes variações sazonais de temperatura entre as estações do ano, como ocorre nos países temperados, inteligentemente reproduziu-se um cenário fortemente outonal utilizando-se a amendoeira-da-praia asiática - Terminala catappa . Esta espécie de árvore tropical muda o tom de suas folhas durante o outono-inverno; criando um cenário de tons amarelo-avermelhados antes da queda das folhas. Estratagema paisagístico inteligente e memorável usado por Agache.







Entre obras de arte desse memorável jardim, destacavam-se: estátuas de formas humanas e animais em mármore de Carrara, a estátua equestre do Marechal Deodoro da Fonseca, em bronze; o chafariz, com nove movimentos de luz, jorrando água a até vinte e cinco metros de altura. Um marcante vislumbre, ajudou no surgimento do mito da "cidade maravilhosa" ou "a Paris dos trópicos".



Depois de sofrer com a construção do metrô nos anos 70, foi reformada reinaugurada em 1992.











Outra obra-prima de Agache.

Grande arquiteto e paisagista !

Antigo Parque da Redenção e atual Farroupilha, em Porto Alegre - RS.



O antigo Campo da Redenção antes da intervenção de Agache.




Embora o projeto de reforma tenha preservado muitos bons detalhes do passado, a intervenção foi profunda e os espelhos d'água deram maior grandiosidade e harmonia ao conjunto que podemos caracterizar como art-déco.





Detalhes românticos foram preservados.



Uma beleza cênica de tirar o fôlego, inserida com maestria e gosto.




Ipês-roxos e palmeiras-de-leque - Tabebuia heptaphylla e Livistona chinensis.



Um discreto chafariz art-déco dos anos 30.



Bem mais antigo, o Parque da Redenção foi reformado em 1935, para as comemorações do centenário da Revolução Farroupilha. Toda a parte sul do campo foi drenada, nivelada e urbanizada, seguindo um projeto do urbanista francês Alfred Agache. Nesse ano sua denominação foi alterada para Parque Farroupilha, o nome se mantém até hoje.





Embora o parque fosse antigo , apresentando vários e belos detalhes românticos e ecléticos, conformando um perfil diversificado de estilos; a reforma de Agache inseriria motivos arte déco nessa paisagem. O chafariz geométrico e a procissão retilínea de ipês e palmeiras, além dos detalhes preferencialmente com ângulos retos em torno do espelho d'água estreitado, já mostram certo distanciamento dos cânones estilísticos anteriores.
Um espelho d'água muito bem feito .



Bem mais resistentes ao frio, a palmeira-de-leque chinesa substituiu na paisagem do parque gaúcho a imponência que a palma imperial empresta aos lugares tropicais úmidos do resto do país. Demora muito mais para crescer do que a já morosa palmeira-imperial, depois de adulta faz belo efeito. Em locais de maior latitude, já nos países platinos, só sobrevive a tamareira das canárias e os butiazeiros.



Juntos, a Praça Paris e o Parque Redenção, nos mostram o talento deste paisagista e arquiteto francês.


O arquiteto Agache trabalhou seriamente em
 vários pontos do país e marcou época.





Plano Prestes Maia para a reformatação e arborização das avenidas de São Paulo- anos 40.



Considerado um tanto retrógrado do ponto de vista conceitual, todavia incentivou a arborização e o ajardinamento das vias principais. Houve um movimento de planejamento urbano nessa época , a modernização do país era evidente.



Seguindo as reformas continuadas no Rio, São Paulo acelera nessa época a reformatação de algumas de suas avenidas mais importantes, ação generalizada porém sem projetos marcantes.





Jardins típicos da tendência arte decó - variada geometria e multi-referências culturais.


De forma geral, a arquitetura e o paisagismo déco representa uma certa tendência - bastante complexa do ponto de vista conceitual- de passagem entre os estilo art nouveau e ecletismo para o modernismo. Assim, observa-se nessa nova proposta estilística muitas e estranhas contradições entre as modernidades do estilo subsequente, convivendo com clássicos detalhes característico dos estilos predecessores.






 Acima alguns prédios Art-Déco, com respectivos paisagismos, na última foto
o prédio é eclético mas o jardim é tipicamente déco.

Também pode ser descrita como um novo ecletismo, recolhendo influências tanto do classicismo como dos movimentos vanguardistas das artes plásticas, tais como o Cubismo e o Futurismo. Combinando todas estas influências com o muito típico " môlho " das culturas exóticas, então muito propagadas pelas revistas, cinema e rádio. Eram as reportagens da exploração colonial e arqueológica dando a conhecer - a todos - a arte pré-colombiana, africana, asiática e em especial as geometrias arquitetônicas do Antigo Egito e Assíria.



Há grandiosidade, necessidade de erudição, aspectos nitidamente caricaturais ou mesmo até carnavalescos, e como veia principal: uma clara concepção internacional. De 1920 até 1940, esta tendência agradou e se instalou em inúmeras culturas nacionais diferentes, algumas solidamente consolidadas, justamente por ser multi-referenciada. Todavia, esta é uma opinião minha, sou um grande admirador desta tendência. O estilo pode ser descrito como sendo sempre um tanto estranho - freak, uma face dele agrada instantaneamente ao observador pelo requinte, ao mesmo tempo uma outra face, exatamente de mesmo impacto, desagrada por parecer decadente. Surgindo então uma admiração pela ousadia de concepção!



O termo art déco, é de origem francesa - abreviação de arts décoratifs.


Geralmente são geométricos, com plantas esculturais e apresentam lagos e água em movimento. Podem apresentar topiária - plantas podadas - caramanchões e muros cobertos de trepadeiras, sempre tentando criar clima artístico e jamais tentando ser natural ou comum no sentido de já ser conhecido. Ser diferente, inovador e ousado é ser déco .







Mesmo quando suaves e românticos, apresentam transição abrupta e plantas esculturais. Estas podem ser descritas como espécies de grande beleza plástica e muito marcantes, funcionando como e esculturas.





A Praça da Liberdade em Belo Horizonte apresenta um conjunto de chafarizes e lagos típicos.




Goiânia é surpreendente !

A tendência se espalhou rapidamente pelo Brasil e deixou inúmeros exemplos tanto em cidade grandes como nas médias e pequenas. Aqui vamos mostrar seu melhor e mais vasto conjunto, reconhecido e tombado pelo patrimônio histórico : Goiânia - a planejada capital do Estado de Goiás






Goiânia, nova capital do Estado de Goiás, foi projetada em 1935 por Artílo Correia Lima. O acervo arquitetônico é considerado um dos mais significativos do país. Construídos nas décadas de 40 e 50 foi tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN) pela portaria de número 507 em 18 novembro de 2003. Estão incluídos 22 prédios e monumentos públicos, o centro original de Goiânia e o núcleo pioneiro de Campinas .





Pesquisando sobre o assunto, encontrei duas explicação para essa escolha estilística em Goiânia. Dentre os moldes considerados ideais, essa arquitetura simbolizava o modelo utilizado pelo Presidente da República Getúlio Vargas na representação de seu governo.





Em outra visão, a opção feita pelo arquiteto Atílio Corrêa Lima, se deu em virtude da precariedade financeira do Estado, e o estilo possibilitaria o efeito de monumentalidade sem a necessidade de utilização de materiais nobres ou exageros decorativos.




“O que Attílio Correia Lima trouxe para Goiânia foi um conceito modernista de edificação, inclusive com a introdução de técnicas novas de construção não conhecidas e impraticáveis para o cerrado goiano dos anos 1930. Vidros, laje plana e outras inovações seriam muito dispendiosas e sem operários especializados para trabalhar”









O Palácio das Esmeraldas é a sede do governo, ainda apresenta um paisagismo impactante, primoroso e típico do déco. Plantas esculturais, topiária, lagos, muitos ângulos retos e friso maia no chão. Pequeno porém muito bem feito!




Rejeitando o acessório e o detalhe supérfluo, Jacques Gréber entendia a composição do jardim déco como uma actividade subordinada à arquitectura e sublinhava a importância da harmonia das proporções, das formas geométricas e do recurso a terraços, fontes e lagos.





Jardins e prédio do Museu Zoroastro Artiaga.





Jardins de época bem conservados.




A palmeira real porto-riquenha "coca-cola" - R. borinquena - adapta-se muito bem às condições mais secas e ocasionalmente mais frias do interior brasileiro, em Goiânia não é diferente, mostra-se uma eficiente "falsa-palmeira imperial", combinam com qualquer estilo e clima, e ninguém abre mão do uso dessa espécie no paisagismo.


O famoso relógio.











O art déco apregoava o uso intenso de ornamentação feita com materiais industriais nobres e modernos para sua época. Punham em moda a estilização geométrica abstrata , as linhas em zig-zag, usavam ritmos lineares verticais para enfatizar a monumentalidade, ritmos lineares horizontais para sugerir dinamismo - como o do automóvel ou da vida cosmopolita.






Depois do início da era industrial moderna, já no pós-guerra, tudo tomaria maiores proporções.




O paisagismo da orla marítima da cidade portuária de Santos, foi sendo implantado aos poucos e continuadamente, desde o início do Séc. XX. Nos anos 30-40 tomou folêgo e configurou-se no maior jardim a beira-mar do mundo.





Com um perfil final tipicamente pré-modernista, embora ainda mesclado com detalhes mais tradicionais, devido a longa sucessão de intervenções. Pelo tamanho e pelas características da vegetação implantada merece o destaque de época.





Pré-modernismo na Orla de Santos - o maior jardim praiano do mundo.


"Fique esperto, liberto de
 qualquer exploração
 

Mais perto do certo, 
andar com atenção
 

Antropofagia pra
 fugir da tensão

Sardinha no cardápio

 pra fazer a digestão"

Vitor Pirralho


As novas tradições começam a disseminar-se, firmando-se. O paisagismo brasileiro só iria receber a mesma forte renovação dos conceitos da arte moderna deste século, por volta da década de 40.





Conceitos de arte moderna corajosamente aplicados ao paisagismo - maior abstração na estética.




O nome de Roberto Burle Marx ficaria associado a essa renovação, tanto no Brasil, como no exterior, como um dos mais importante, senão o mais importante, paisagista moderno.




Ed. Gustavo Capanema - antigo Ministério da Educação e Cultura no Rio de Janeiro.


Primeiro grande prédio modernista brasileiro - projeto de Le Corbusier e Niemeyer - tornou-se emblemático e um marco do início desse movimento. Iniciado em 1936, foi inaugurado em 47.



Os jardins suspensos de Burle Marx ficaram célebres, tornando-se um ícone do início do paisagismo modernista. Os canteiros amebóides e a integração com a arte e a arquitetura mostraram as possibilidades de um novo caminho; sem florzinhas, sem lembranças do passado, asséptico e tropical.



Jardins de Burle Marx -Palácio da Cultura RJ







Uma nova concepção, fundamentada em formas orgânicas.



Integração com a natureza circundante, simbolismo, ludicidade e abstração sem jamais deixar de ser plácido. A renovação foi prontamente percebida e aceita, indo ao encontro e somando-se as obras, também vanguardistas, do urbanista Lúcio Costa e do arquiteto Oscar Niemeyer - formaram uma trindade.



O estilo proposto por Burle Marx não abria mão de recursos formais anteriores, da inspiração oriental, do informalismo inglês, das palmeiras imperiais do passado brasileiro, criando uma miscelânea , multireferenciada e muito original . As fotos abaixo são de projetos do mestre do jardim moderno.












O novo estilo viria a introduzir no rol das possibilidades estéticas: as formas abstratas com a valorização da curva, a integração harmônica do projetado com a paisagem natural através de uma transição suave; a utilização de pedra, água, metal e outros recursos aumentando o sentido da abstração e do surrealismo no jardim.




Os desenhos abstratos dos canteiros de flores entrelaçados; as novas plantas tropicais introduzidas no uso paisagístico, em especial o das palmeiras exóticas, criando uma espécie de estilo pantropical, onde o melhor das espécies tropicais de todos os continentes era usado em larga escala.



A utilização de espécies do Cerrado, da Mata Atlântica e da Amazônia, com formas inusitadas e de grande impacto visual, também foi um dos marcos dessa tendência modernizadora. Os jardins com exemplares da flora brasileira passam a ser esteticamente bem aceitos pela cultura nacional.




Praça dos Cristais e Palácio do Itamaraty - Brasília



Mas nem só de jardins residenciais e praças o fariam famoso, os parques públicos mostrariam em maior escala a renovação conceitual no paisagismo moderno.





Essa nova concepção estética encontraria os seus melhores exemplos no Parque do Aterro do Flamengo no Rio de Janeiro, no Plano-Piloto de Brasília e no Parque do Ibirapuera em São PauloAlinhar ao centro




Burle Marx obteve reconhecimento internacional, embora muito conhecido de nome, poucos saberão dizer qual seria a importância da sua obra para o paisagismo.








Parque do Flamengo - concepção estética e urbanística de Lota de Macedo
 Soares  e com o paisagismo de Burle Marx em plena implantação.






A repercussão internacional do novo urbanismo de Lúcio Costa, da arquitetura de Niemeyer e dos jardins de Burle Marx consagrou os valores conceituais e marcou a emergência do paisagismo brasileiro como um dos mais modernos e criativos desse século.






A titânica Palma Talipot do Ceilão - Corypha umbraculifera

Após cinco décadas de crescimento , chegando ao fim de seu ciclo vegetativo, a palmeira-talipot por fim floresce magnificamente uma única vez, em seguida frutifica e morre.



As plantas utilizadas por Burle Marx são tantas que enumerá-las é muito extenso, mas alguns exemplos são significativos e identificadores do estilo: os Agaves, as Bromeliaceae, as Araceae, as Liliaceae bulbosas e floríferas (Hemerocalis e Agapanthus), as palmeiras (Corypha umbraculifera,Caryota mitis, Pritchardia pacifica, Licuala grandis, Sabal minor, etc.), os pandanus (Pandanus utilis e P. veitchii), as árvores-do-viajante (Ravenala madagascariensis), as contorcidas árvores do cerrado e muitas outras.





Ao fundo Palmeiras-de-Fiji - Pritchardia pacifica - introduzida por Burle Marx, tornou-se posteriormente de utilização comum em jardins de prédios residenciais de alto padrão no Rio, marcando o paisagismo dessa época .



O mix estilístico utilizava espécies muito diferentes : Abricó-de-Macaco, Figueiras, Beaucarneas e árvores contorcidas do cerrado




Não relegou em sua obra o tradicional corredor de palmeiras.






Parque do Ibirapuera (SP)



A luta pela conservação do meio ambiente e de espécies vegetais ameaçadas de extinção pela exploração humana, talvez venha a criar novos modelos de arborização urbana, transformando as ruas, parques e avenidas em mostruários didáticos da riqueza natural que vai se extinguindo inexoravelmente desde o descobrimento do Brasil. Contrapondo a moderna cultura urbana à tradicional cultura rural, ainda não inteiramente convertida ao conservacionismo.



Do lado dir. a Praça Paris com seus jardins franceses tradicionais , à esq. a modernidade de Burle Marx, numa coexistência até harmoniosa - vê-se bem a evolução conceitual ocorrida.




Nas últimas décadas, observa-se a evolução das propostas da década de 60 e o surgimento de novas outras. O absolutamente novo no cenário paisagístico é a valorização da utilização de espécies raras, e nem sempre belas, da flora brasileira nos espaços públicos.







  
O Parque da Catacumba no Rio de Janeiro é uma experiência paisagística digna de nota.







O nome funéreo vem da montanha rochosa vizinha - a Pedra da Catacumba .







Com a remoção da Favela da Catacumba, nos anos 70, proporcionou-se um novo e especial espaço para a implantação do futuro parque. Reparem bem na recuperação ambiental realizada, observando o tamanho da área da expansão dessa comunidade no sopé do rochedo.





Inaugurado no início dos anos 80, o parque é resultante da execução de duas diretrizes de projeto diferenciadas. Na parte baixa, até a meia encosta do morro, há uma sólida obra de arquitetura, ajardinamento e paisagismo criando no local um espaço muito bem projetado e agradável, formado por alamedas, praças e jardins, com muitas árvores, e uma exposição ao ar livre de esculturas de artistas famosos.




No espaço da meia encosta ao alto do morro, foi feito um reflorestamento, com a predominância de espécies encontradas na mata atlântica. Em consequência, ressurgiu a fauna local, visível em sua maior parte por pássaros e sagüís.



Uma trilha muito bem constituída, leva ao ponto mais alto do morro, onde um mirante permite apreciar uma das mais belas vistas da Lagoa Rodrigo de Freitas.





Desfavelizou-se, para o local não refavelizar, implantaram um parque, reflorestaram as áreas de encosta para reestabilizar o ambiente natural, por fim transformaram a paisagem em uma interessante galeria de arte. Virou um ponto turístico dos mais importantes, um exemplo a ser seguido.






Esculturas de artistas famosos.



Uma ambientação muito harmônica e um admirável espaço de visitação.


A maioria dos visitantes vem de longe, incluindo turistas do Brasil e do exterior. Isto faz com que sua importância transcenda os limites dos bairros vizinhos, tornando-o um local de interessante vanguarda paisagística e de especial valor para toda a cidade do Rio de Janeiro.



Escultura exposta no Aterro do Flamengo -RJ.




O monumento comemorativo do centenário da imigração japonesa em Santos - de 2008.



Escultura metálica da consagrada artista japonesa Yomie Ohtake, encanta pelo entrosamento com a natureza e pela leveza e simbolismo orientais. Um marco paisagístico para a orla de Santos, já famosa pelos extensos jardins praianos.



Perspectivas do projeto de Rui Ohtake.


A praça ou parque, de arrojada concepção do arquiteto Rui Ohtake - filho de Tomie, ocupa um aterro por sobre as galerias de condução do interceptor oceânico de esgotos da cidade. Conhecido localmente como tradicional ponto de surfistas, protege das ressacas o início da linha de tubulões, tornou-se agora um mirante muito bem projetado no José Menino.



Uma península anexada ao grande jardim praiano santista.

Tomie Ohtake - a nonagenária escultora.


Formou-se uma forte rejeição popular a sua obra "Estrela do Mar" , posta flutuando na Lagoa Rodrigo de Freitas em 1984, bem em frente ao Parque da Catacumba-RJ. Esquecida esta mal fadada experiência carioca, surge o belo monumento à beira-mar santista: completamente nipônico e contemporâneo. Não me canso de admirar esse projeto, é muito bom !













AS TENDÊCIAS  MAIS ATUAIS - O PÓS-MODERNISMO:


















O urbanismo e  o paisagismo da nova capital do Azerbajistão
continuam a repaginar o estilo de  Burle Marx .














O Jardim Botânico de Inhotim  também expõe arte moderna nos jardins.


Novas tendências vanguardistas associam o paisagismo à arquitetura moderna de forma cada vez mais emblemática. A cidade-estado de Cingapura dá exemplo desta nova faceta da urbanidade no seu novo Jardim Botânico.



Os tradicionais Dogs-Foo de pedra, guardiões dos jardins chineses. misturam-se à paisagem surreal vanguardista e fortemente simbólica. A utopia da natureza domada e protegida dos antigos jardins franceses retorna em versão arquitetônica contemporânea

As grandes estufas oitocentistas de Kew e Schönbrunn são reapresentadas, a exuberância tropical resguardada é exposta não mais como uma curiosa jóia da natureza, mas como uma relíquia de museu. Erradicada mundo a fora, a natureza vem sendo cultuada e protegida nas cidades, os animais silvestres que cada vez mais procuram dormir e procriar nos cenários urbanos, parecem concordar plenamente com esta nova realidade de sobrevivência.



A obra do "Pinheiro milagroso", em Iwate
A obra do "Pinheiro milagroso", em Iwate.
Um pinheiro que sobreviveu ao terremoto seguido de tsunami que atingiu o norte do Japão em 11 de março de 2011 se tornou agora um memorial em homenagem às vítimas da tragédia. A árvore chamada de "pinheiro milagroso" foi artificialmente restaurada e virou um monumento de 27 metros de altura, em um projeto que custou cerca de 150 milhões de ienes (R$ 3,1 milhões).

Uma nova e inovadora forma de monumentalizar  uma árvore valente ! Gostei muito e registro.



EPÍLOGO e PENSATA:




Os Jardins da Babilônia - uma referência eternamente clássica e recorrente
como se observa nos jardins pós-modernos mais acima retratados.



"O passado é a única realidade humana. Tudo o que é já foi."
( Anatole France )

"Atiramos o passado ao abismo, mas não nos inclinamos para ver se está bem morto."
( William Shakespeare )



"Os verdadeiros progressistas são os que partem de um profundo respeito ao passado. "  
( Joseph Ernest Renan )
ou ainda.....


Vultos sem precisão vagam no meio da cerração. Se ouve um coro de vozes abismais repetindo "O passado...nunca mais".



O futuro a Deus pertence !


Para ver a primeira parte desta postagem:
A Evolução do Paisagismo no Séc. XIX


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