VVVVVV>&&&&&%gt;gt;>>>>>>>>>>>>>>>>>"Ver e ouvir são sentidos nobres; aristocracia é nunca tocar."

&&&&&&>>>>>>>>>"A memória guardará o que valer a pena: ela nos conhece bem e não perde o que merece ser salvo."


%%%%%%%%%%%%%%"Escrevo tudo o que o meu inconsciente exala
e clama; penso depois para justificar o que foi escrito"


&&&&&&&&&&&&&&;>>gt;>>>>>>>
"
A fotografia não é o que você vê, é o que você carrega dentro si."


&
;>&&&&&>>>>>>>>>>>>>>>>&gt
"Resolvi não exigir dos outros senão o mínimo: é uma forma de paz..."

&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"Aqui ergo um faustoso monumento ao meu tédio"


&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&&"A inveja morde, mas não come."


sábado, 7 de agosto de 2010

As Orquídeas e a Princesa Isabel - parte II - Biografia





O dragão-serpe configurou-se num
símbolo da dinastia dos Bragança.












"As imagens se acumulam,
rolam enquanto falo.
O tempo é o meu lugar,
o tempo é a minha casa"

Vitor Ramil

E que tudo passe...
e passe muito bem !

Leminsk


O rico acervo exposto nos bem conservados interiores do Palácio de Petrópolis pode nos dar uma boa ideia do conforto dos integrantes da família imperial.  A construção foi erguida pelo imperador visando fugir do clima quente e insalubre do Rio de Janeiro, entre 1845 e 1864. Com a República o palácio ficou de posse dos descendentes exilados na Europa, foi esvaziado e alugado pela família imperial no exílio, serviu como colégio muito tempo. Foi adquirido da família de D. Isabel para a criação e instalação do Museu Imperial em 1943, parte do mobiliário voltou ao prédio, principalmente objetos do acervo do Museu Histórico Nacional, reconstituindo, parcialmente, ou no que foi possível, os ambientes originais de quando o palácio era habitado pela realeza. Para os que gostam de História do Brasil é emocionante visitá-lo !


Este é o museu mais visitado do Brasil, uma joia arquitetônica de conservação e respeito pelo passado! Após o advento da república o prédio permaneceu de posse da família imperial, posto que foi  erguido exclusivamente com recursos privados de D. Pedro II, oriundos de sua dotação pessoal, e por isso não foi desapropriado pelo furacão republicano. Portanto deve estar claro que nunca houve aporte de recursos governamentais diretos nele, como ocorreu nas residências oficiais do Rio de Janeiro, estas sim foram adquiridas ou erguidas com recursos governamentais e sempre fizeram parte tácita do patrimônio nacional, sendo cedidas e habitadas pela família imperial na condição de mero usufruto. As reformas perpetradas pelos ocupantes, a título de  melhorias, foram consideradas como sendo apenas conservação pertinente à função e status das construções, foram todas expropriadas.



O príncipe Alexandre de Württemberg, percebendo o acanhamento e falta de pompa
da monarquia brasileira, comparou-o a um " triste edifício que no máximo 
satisfaria as exigências de um próspero mercador, 
mas não as de um monarca"


A admirável museóloga Ana Luísa Camargo, do
Museu Imperial, nos mostra como está hoje a
casa de verão do imperador.


A residência era graciosa e de bom gosto, por dentro e por fora,
de luxo ostensivo só a Serra do Mar de entorno.


Despido de seu aparato original quando foi alugado, os móveis e decoração seguiram encaixotados para o Chateau D'Eu, o palácio só voltou a ser revitalizado após a implantação do Museu Imperial, com o retorno de objetos originais até então guardados em outros museus. Devido a qualidade técnica implantada e a seriedade da conservação, passaram a ocorrer doações e aquisições constantes. Trata-se de uma das mais importantes instituições culturais brasileiras, sendo muito grande a visitação do acervo exposto.



 
 

 



Imagens dos interiores do Palácio de Verão
em Petrópolis, atual Museu Imperial.


A decoração portanto não é completamente original, foi remontada com o que foi possível recuperar de mobiliário e decoração após a dispersão republicana . Há móveis originais do Paço de São Cristóvão, outros são do tempo de D. Pedro I ou pertenceram a nobreza daquele tempo.




 
As históricas berlindas cerimoniais da Imperatriz
 e do Imperador, eram puxadas por oito cavalos.



Sua Majestade Imperial, o Imperador D.Pedro II,  em 1876.
O mais ilustre dos brasileiros visitava os Estados Unidos.
A viagem seria um sucesso pessoal para ele,
percebido como democrata, cativou
a imprensa americana.



Veja uma outra postagem sobre Pedro II:

As Viagens do Imperador - Click aqui para acessar




 A riqueza do país aumentava a cada safra de café, então já  a bebida da moda no mundo,
 a produção era movida pelo braço escravo, a  escravidão valia ouro.





Os filhos ocupariam um bom espaço na vida de D. Isabel.

Em 1883.


D. Isabel, já mais madura, com os três filhos, durante anos deram como quase
 certa a sua infertilidade, mas a medicina auxiliou a princesa a reverter o quadro e ser mãe.


D. Isabel com os filhos e a Condessa de Barral,
então em visita ao Brasil.

Chegando à meia-idade o casal D'Eu continuava a se relacionar bem, não há qualquer notícia de desentendimentos ou traições amorosa na vida particular dos condes, eram apaixonados. A vida social e as recepções que deveriam acontecer no Paço de São Cristóvão, a cargo dos imperadores, migraram para o Paço Isabel. Nestas ocasiões D. Isabel tocava piano e eram poucas as pessoas convidadas, não havia gastos excessivos, comilanças e nem glamour, havia sim simpatia.


A princesa tocava piano muito bem !

Só haveria registro de luxo imperial nas duas recepções oferecidas à tripulação do navio chileno Alm. Cochrane, em 1889. O primeiro evento festivo oferecido no Paço Leopoldina pelo príncipe Pedro Augusto fez o Conde D'Eu registrar esta recepção como a mais luxuosa que ele teria assistido no Brasil. O segundo seria o famoso e emblemático baile da Ilha Fiscal, este será comentado mais abaixo.




O epicentro social do império estava nas recepções que o
 casal promovia em sua residência carioca.






Uma magnífica alameda  dava acesso ao Paço Isabel , ligando-o
 à Praia do Flamengo e cercada de magníficas palmeiras imperiais;
na foto observa-se Gaston e D. Isabel chegando em sua residência.



Cavalariços, carruagem fechada e o casal D'Eu
saindo do Paço Isabel em carro aberto.





Aspectos do interior do Paço Isabel
 - estilo claramente francês.


 Uma bela imagem da Princesa Isabel do Brasil,
a princesa das orquídeas, das camélias e das rosas.



Na varanda da casa da princesa em Petrópolis vemos D. Isabel e suas inseparáveis amigas de infância, as Baronesas de Muritiba (esq.) e Loreto ( dir. ) , ambas lhe acompanharam , espontaneamente , até no exílio. Na foto acima, no interior do Paço Isabel em Laranjeiras, vê-se Mariquinhas Tosta  sentada - oriunda de abastada família, por casamento tornou-se a Baronesa de Muritiba - fazia companhia à princesa, esta aparentemente toca piano.

A Baronesa de Loreto

Acima Amandinha Paranaguá, descendente de rica família do Piauí, ficou, infelizmente, cega de um olho por descuido de D. Isabel. Ainda adolescentes - aos 16 anos - e trabalhando na jardinagem, distraiu-se a princesa e acertou , por trás de si e sem perceber, um golpe de pá na face da amiga querida, ofendendo-lhe definitivamente um dos olhos. Este fato nos demonstra, bem como alguns outros registros em historiografia,  que  a manutenção de hortas e jardins fazia parte da educação da princesa. O que justifica o seu futuro gosto por animais,  plantas e flores. Amandinha nos legou diários e  entrevistas, onde nos informa, do seu privilegiado ponto de vista, muitas percepções importantes sobre a família imperial.

 Mariquinhas Avellar, Tosta por casamento
 com Manoel Vieira Tosta.

Manoel Tosta - Barão de Muritiba


 
 Em 1868-69.


A Baronesa de Muritiba - Mariquinhas Tosta
 - também muito íntima de D. Isabel

As três grandes amigas.


O Imperador das Selvas em 1882.

Retratado acima em traços oníricos, confessou 
em carta ao cunhado rei de Portugal:

 "Entretanto vou vivendo de minha imaginação,
 e, como acertadamente dizes: des 
ressources que l’on trouve 
en soi-même

( dos recursos que encontro em mim mesmo)


 Busto de D. Isabel , pertencente
à coleção do MASP.

O fortalecimento do ciclo econômico da lavoura do café coincide com o auge do reinado de Pedro II. O diabetes surgido com o início da senilidade, passou a erodir a saúde do monarca, envelhecendo mais rápido do que o normal, parecia ter 15 anos a mais na aparência.



Na década de 80 a monarquia começou a enfraquecer, o imperador envelhecido perdeu disposição e saúde, seu volume de trabalho multiplicava-se, o país crescia gerando um grande volume de regulamentações e leis. O que antes era "maçante" tornou-se cansativo e enfadonho.

 

As doenças e o estresse começaram a aparecer e a minar o corpo do sedentário Pedro II. Suas pernas enfraqueceram e cobriram-se de erisipelas, sua memória falhava, dormia lendo, desejava cada vez mais descansar a mente e viajar em lazer, sua pátria cultural era a França.


D Pedro II passeia com seus partidos políticos de estimação: a tartaruga liberal, a preguiça conservadora e o caranguejo republicano. O crescimento do republicanismo e a anacronismo político do Império, fizeram com que o cerimonial  que cercava o Imperador praticamente desaparecesse, ele recusou aumento da sua dotação e a inflação foi correndo sua corte imperial. Também o crescente endividamento da família imperial desestimulava gastos, preferiam gastar nas viagens à distante  Europa, por aqui só se via austeridade e decadência na corte carioca..


A decadência imperial surge da falta de saúde e de sucessores viáveis
do imperador , a economia ia bem, o Partido Republicano
 era frágil mas o Exército era forte.


A imprensa republicana percebendo a situação de declínio físico do monarca, além da falta de paciência e energia para governar, tornou-se feroz, a imagem pública de D. Pedro II começou a ser erodida. Nesta época, ocorreu um caso policial provocador de sério estrago na imagem do imperador. Nessa altura  já era tratado como alienado e viajador, e até mesmo sua proverbial erudição passa a ser considerada "superficial". Por ocasião desse famoso roubo das joias da imperatriz, em 1882, transpirou secundariamente , como fofoca, o hábito imperial de correr atrás de mocinhas virgens.


Precioso cofre guarda jóias em bronze dourado e porcelana pintada, presenteado aos
 Príncipes de Joinville pelo Rei da França Luís Felipe - Museu Imperial.



Um senhor muito respeitável, mas ainda
bastante humano e com vários defeitos.

O ladrão das preciosas peças, as mesmas foram recuperadas enterradas em seu quintal, foi ampla e estranhamente perdoado por D. Pedro II e voltou até a trabalhar no Paço, a trama do roubo parece ter conexões com a filha adolescente deste empregado do paço.


Madame de Barral era bem informada sobre a vida no paço, insistia em suas cartas que logo surgiria uma nova república na América do Sul, criticava D. Pedro II pelo excesso de liberdade da imprensa  e pela falta de brilho e refinamento da monarquia brasileira.
 

 A condessa morava na França nessa época e a despeito da idade avançada, ainda mantinha o status de ser a preferida do imperador. Ao saber do caso das joias e das mocinhas, escreveu-lhe uma carta daquelas onde espinafrava-o em função da repercussão derivada do episódio , as fofocas maledicentes chegaram até ela na distante Europa.



Ficou tácito neste acontecimento que havia um informal " Assessor dos Assuntos Eróticos" a serviço do imperador, este certamente ainda apresentava libido,  a tal moça virgem Conceição era de fato muito atrativa. O humorista e entrevistador Jô Soares escreveu um livro, e este depois foi filmado, com o epíteto de O Xangô de Backer Street, este versa  fantasticamente sob o episódio do roubo das joias da imperatriz, as mocinha não são citadas neste enredo ficcional, o livro foi bestseller.

Na foto da inauguração de um túnel, vemos o casal de imperantes, a princesa Isabel e
o marido francês, e os dois netos Saxe-Coburgo, Augusto Leopoldo do lado do
avô, e Pedro Augusto ao lado da tia princesa herdeira do trono.


Acima uma foto pouco conhecida, nela se vê a recorrente cena da família reunida, o imperador mostra-se cercado por cinco dos seus netos, outros dois moravam na Europa. Os dois adolescentes são os filhos mais velhos de falecida Princesa Leopoldina, no colo de D. Isabel está Antonio, seu filho mais novo, portanto a foto é de 1881-82 . Com o terceiro rebento finalmente no colo da princesa, conclui-se que  o reprodutor francês contratado para perpetuar o Império funcionou bem ! O Conde D'Eu sempre tentou fazer o melhor que podia, seus erros foram pontuais e emocionais, inevitáveis diria, merece respeito pela trajetória de príncipe-consorte e pela dedicação conjugal exemplar. Na foto acima vemos o príncipe francês em vista frontal, bem mais próximo do seu aspecto real, alto e de corpo bem configurado, de aspecto militar e viril.


A cena, os figurantes e os jardins de Petrópolis são sempre os mesmos, só o tempo passa, além da disputa entre tia e sobrinho pela sucessão. Esta acirra-se com declínio da saúde de Pedro II, falava-se então em abdicação. Os republicanos por um lado, e uma minoria de militares de baixa patente por outro, organizam-se e aguardam o falecimento de D. Pedro, para então derrubarem o antigo regime. D. Pedro confiava plenamente nos amigos militares de alta patente, aqueles que de fato comandavam as forças armadas, surpreenderia-se mais a frente com a quartelada que o derrubou do trono.

O imperador e o genro  visitando instalações militares em 1886. A silhueta obesa de
D. Pedro nos mostra que já deveria pesar bem mais que 100 kg, foi o excesso
de peso que provocou a resistência do corpo à insulina. Neste quadro
 fisiológico, ele desenvolveu o diabetes tipo II, e este
 iria lhe minar a resistência física.





Os filhos cresciam brincando
 em Petrópolis.

Sem  muito talento ou
 vocação para imperar.

D. Isabel não foi, de modo algum, preparada e instruída para exercer firmemente o comando político do país, aparentemente seu pai nunca imaginou que ela seria capaz de sucedê-lo, talvez esperasse a sua sucessão por um dos netos, talvez soubesse que ao desaparecer o Império também findaria.


Provavelmente a princesa sentia-se , ao mesmo tempo, desconfortável e orgulhosa de ser a herdeira, talvez por isso passasse tantos anos no exterior com marido, longe da acidez da imprensa sentiam maior privacidade. O desconforto e falta de ambição do casal com relação ao poder é evidente nos seus atos!


Desenho feito pelo imperador durante uma " maçante" sessão de despachos em
 1868, na década de 80 já se mostrava velho e cansado da burocracia governamental.




Problemas de sucessão, ele era insubstituível e
 sabia disto; aliás adorava isto!


Acima o missal da Princesa Isabel, uma católica muito fervorosa, todavia era
 vista como uma carola facilmente influenciável por bispos.

Em função de sua religiosidade e boa índole, a questão da escravatura arrebatava-lhe intenções. Era socialmente engajada em obras de caridade e de religião, vaidosa e fútil são definitivamente adjetivos fora do seu perfil, um tanto alienada e decididamente feliz em ser esposa e mãe são características mais cabíveis.


Um francês por trás do trono ? D. Pedro II apenas tolerava-o, todavia foi um ótimo,
 influente e amado marido para D. Isabel, e todos sabiam dessas circunstâncias.



D. Pedro II viveria então seus últimos anos de estabilidade política.



O drama pessoal de uma sucessão não 
desejada e ao mesmo tempo tão eminente.


Acima a histórica e pouco conhecida Sala do Trono do Paço da Cidade, na
atual Praça XV de Novembro, no centro do Rio; o salão dispunha de
 imponente baldaquino e de quatro tronos, provavelmente os dois
maiores para os imperantes e dois menores para o casal D'Eu.



A sala dos embaixadores atualmente:
despida de todo o aparato.

O paço residência de S. Cristóvão
 foi totalmente despido dos
seu mobiliário.


Pedro II em 1885, o desgaste
 físico avança.
A insegurança da princesa era significativa, mas o sentimento dominante descrito por ela mesma é o de substituí-lo com muita discrição, assim agradando a todos, inclusive a ele. Essa condição de regente é encarada por ela com certa angústia, isto fica muito claro na sua correspondência.

Gaston em 1885: um Pedro III com
 sotaque francês ?

Pairava no ar a inevitável situação de seu marido vir a ter grande influência no seu reinado. Ele mantinha-se estrategicamente discreto, silencioso e influente nas decisões dela ! Ela sempre submissa a ele !


Estação de trem privativa da família imperial - Quinta da Boa Vista.



O vagão e o bonde imperiais.

Quando o imperador retornava das viagens, simplesmente não tocava nos assuntos relativos à regência com a filha. Dava a entender que a substituição constitucional que a filha lhe fazia era destituída de importância e consequências, sendo apenas uma formalidade inevitável. Com o pai ausente, a um ou dois continentes de distância, D. Isabel ficaria no cargo por 3 anos e 4 meses, quase um mandato presidencial, porém sempre esteve desconfortável na função régia , sendo mal percebida pelos políticos e pelo próprio pai. D. Pedro II apresentava uma tendência minimalista nas relações públicas e talvez também nas familiares, o conde Suzannet resumiu muito bem na sua impressão pessoal sobre ele: “ O imperador não fala nunca (...) Encara com um olhar fixo e sem expressão. Cumprimenta ou responde apenas por um meneio de cabeça ou um movimento de mão. Deixa-nos uma impressão desagradável este príncipe(...) que parece tão triste e infeliz.”

 
 Se ele não fazia muita fé na própria filha, os outros muito menos fariam,
 Pedro II sabia perfeitamente que seria o último imperador brasileiro,
 todavia não cogitava um possível e ingrato exílio.



O Império envelhece e fica doente,
 junto com D.Pedro II.






A situação de sucessão era delicada, constrangedora e percebida pela imprensa. Os republicanos, originalmente uma divisão do Partido Liberal, começam a ganhar força política e suas ideias, juntamente com as críticas à monarquia, ganham crescente destaque na imprensa.




Relógios do Séc. XIX, o de cima decorado com serpes - híbridos fictícios de dragões e
serpentes - símbolos da dinastia dos Braganças e o monograma "PII" do imperador.


"Relógio parado
o ouvido ouve
 o tic-tac passado"

Paulo Leminski





Abaixo um trecho especialmente interessante, e muito bem escrito,
do Manifesto Republicano de 1871:



"(...) A nossa forma de governo é, em sua essência e em sua prática, antinômica e hostil ao direito e aos interesses dos Estados americanos. (...) Perante a Europa passamos por ser uma democracia monárquica, que não inspira simpatia nem provoca adesões. Perante a América passamos por ser uma democracia monarquizada, onde o instinto e a força do povo não podem preponderar ante o arbítrio e a onipotência do soberano.



Em tais condições pode o Brasil, considerar-se um país isolado, não só no seio da América, mas no seio do mundo. O nosso esforço dirige-se a suprimir este estado de coisas, pondo-nos em contato fraternal com todos os povos e em solidariedade democrática com o continente de que fazemos parte."



A sucessão na monarquia despertou disputas, inclusive
 familiares: acima o trono  de PII original do Tribunal
Imperial de Justiça Militar, idêntico ao do
 Paço de S. Cristóvão, e atualmente
 no Museu Imperial em
Petrópolis.

Diferenciam-se apenas pela almofada do
 espaldar que é bordada  em prata no
exemplar do Museu Imperial.

D. Pedro II ajeita o barrete da imagem da República por sobre a coroa imperial,
 ele mesmo não acreditava na sua sucessão, estava certo mais uma vez.



?????

Os partidários do neto imperial Pedro Augusto, os chamados "pedristas", tentavam , orquestradamente, fazer decolar um hipotético Pedro III de Saxe-Coburg e Bragança; o avô-imperador, que preferia discretamente o neto como sucessor,  ficou bem quieto não interferindo e nem expressando maiores preferências públicas.


Pedro III de Saxe Coburgo
 e Bragança ?!!!


D. Pedro II observava a disputa entre seus descendentes como uma componente de fortalecimento da monarquia. Deixaria de herança uma sucessão com uma doce calda liberal e até um pouco "republicana". Os parentes do príncipe-neto estavam estabelecidos em várias casa reinantes , havia Coburgos na Bélgica, Portugal, Grã-Bretanha, Aústria, Romênia e Bulgária. O apoio externo seria-lhe favorável e isto contava a favor dos "pedristas". Começaria a disputa pelo poder: constitucionalistas-isabelistas, pedristas e republicanos enfrentavam-se.


Isabel I - Imperadora do Brasil ?!?
 A Princesa Isabel era uma excentricidade em um mundo
 masculino, conservador e patriarcal.



"Ela sempre se encarregou da regência a contragosto, mantendo-se fiel e dócil 
ao sistema e estilo de governo do seu pai. Seu marido, o conde d’Eu,
 é quem escrevia as cartas aos ministros e tomava para si o
 estudo dos documentos apresentados pelo Gabinete".
 Roderick Barman - biógrafo de D. Isabel.



“Ela sabia exatamente
 onde estava pisando.
 Nada era ingênuo”

Maria de Fátima
 Argon



Em 1887.

Mas D. Isabel e o esposo tinham trunfos políticos guardados para a hora certa de usá-los! Desde a sua primeira regência, a princesa vinha aprovando sucessivas leis, abrandando paulatinamente a escravidão, essa chaga social e econômica envergonhava a todos, havia grande ansiedade em findá-la. Porém as razões econômicas prevaleciam sobre as outras: a lavoura cafeeira, continuava enriquecendo o país, movida a escravidão.



Reconstituição dos móveis do gabinete de trabalho e estudos do Príncipe Pedro Augusto - Museu Imperial de Petrópolis. Após o inesperado exílio, o príncipe e seu irmão Augusto Leopoldo, leiloaram por aqui mesmo a maior parte dos móveis e objetos sem maior cunho pessoal do Paço Leopoldina. Sua coleção de livros foi leiloada já em Viena, uns dois anos após o fim da monarquia, sua condição financeira se deteriorou rapidamente sem a dotação de membro de família imperial. Sempre gastou muito mais do que podia, deixando seu pai enfurecido com seus constantes pedidos de dinheiro. Muito do seu caráter, gosto pessoal e lado emocional, ficaram mais aparente através do estudo da lista dos livros que possuía. Está lista foi recuperada, bem recentemente, na antiga casa de leilões vienense e é uma das maiores evidências sobre o seu modo de ser, que sempre foi contido e até mesmo enigmático.





Chamado de "o príncipe engenheiro", devido a sua formação na Escola Politécnica, D. Pedro Augusto era também exímio mineralogista. Deve ter sido o primeiro príncipe de origem européia com um curso superior universitário. Suas cartas e trabalhos científicos versando sobre os minerais brasileiros, escritos por ele entre os 20-22 anos de idade, não deixam dúvidas sobre a sua vasta capacidade intelectual e também do seu distanciamento cultural em relação ao resto da sociedade: era um elitista autocentrado. O rapaz era brilhante, não era sem fundamento que o avô o adorava, a imperatriz apoiava abertamente o neto engenheiro como futuro Pedro III. Pesava contra ele a pouca idade e a imaturidade, além de não se interessar abertamente por namoradas ou casamento, ou qualquer outra variação de sexo, era pouco ou nada sexual. Os condes D'Eu tentaram de todo jeito arrumar-lhe uma princesa como esposa, fora do Brasil ele seria menos ameaçador e competitivo com relação à sucessão, nenhuma o agradou ou se agradou dele, embora fosse belíssimo.

Foto de ótima resolução onde se vê os avós e neto mais velho em viagem pela Europa.
 Pedro Augusto era o interlocutor familiar preferido do avô, eram parecidos
 em tudo, até mesmo fisicamente. 

Amplie e veja o passado mais de perto!

Em viagem pela Europa com os avós, Pedro Augusto era tido como o provável D. Pedro III. Os Coburgos estavam estabelecidos em várias casas reais, estavam com a cotação alta no Brasil também. Seu pai, assolado pelos seus constantes pedidos de ajuda financeira, escreveu a Pedro II: "É incrível como gosta de gastar dinheiro e uma de suas cartas é cheia de pedidos de dinheiro e mais dinheiro". A realidade mostrava que seria muito difícil aos brasileiros aceitar serem governados por uma mulher. Ele teve chances reais de ser Pedro III.





Acima os três filhos da Princesa Leopoldina, já adultos: Pedro Augusto, Augusto Leopoldo e Luís (Ludwig). Josef, o historicamente desconhecido quarto irmão, terceiro na ordem de nascimento, faleceria próximo aos 20 anos, sem deixar descendência. Nada consegui achar sobre sua biografia ! Nada ! Os dois primeiros poderiam ter sucedido ao avô caso D. Isabel abdicasse dos seus direitos ao trono. Como ela adorava passar longas temporadas na França, um dia poderia ir-se definitivamente ! Assim talvez pensassem os netos mais velhos do imperador, na esperança de sucedê-lo ! No meio de tanta realeza bragantina destituída de beleza física, destaca-se o porte e as feições dos  irmãos Saxe-Coburgo e Bragança.

Medalha Comemorativa
 da Terceira Regência.

Excelente foto da missa comemorativa da Aclamação da Terceira Regência de D. Isabel , durante viagem de seu pai em 1887 - amplie e veja em maiores detalhes. A saúde do imperador piorava e a medicina européia poderia ajudar a administrar o galopante diabete melitus, ou então o fim estaria próximo. Era pensamento geral: voltaria da viagem dentro de um caixão. A sucessão do trono tornava-se cada vez mais próxima e acirrada.



Aos 61 anos em 1887: sábio, honesto,
austero e diabético.

Seus médicos  recomendaram-lhe tratamento médico e férias na Europa , era
quase certeza que não sobreviveria muito tempo, em Milão quase faleceu.


D. Pedro da Mala foi viajar, deixando D.  Isabel e o
esposo tocando a orquestra política nacional.



O paquete francês Gironde que o levou foi nomeado pelos republicanos
de " o esquife da monarquia". O  persistente péssimo estado físico
 geral do imperador é visível nas fotos de retorno no navio Congo.

 Os avós e o neto posam sentados no convés do navio Congo, de volta da Europa, dessa vez foi o imperador que inspirou cuidados médicos. A medida que a saúde dos monarcas declinava, o fim do Império do Brasil era cada vez mais perceptível. Mota Maia , médico particular e amigo fiel do imperador, pode ser visto à direita, entre a cadeira branca e homem de cartola. Sempre monitorando o nobre ancião, sua dedicação foi  responsável pelos poucos mais de dois anos de sobrevida  que ele teria após a severa síncope que teve em Milão. Um momento histórico!



 Sentiu-se já coroado como sucessor, a
 recepção na Europa foi realmente excepcional.

"D. Pedro Augusto tem uma cara de apetite simpática e bonita. 
Esta é minha opinião de relance. As irmãs de caridade são da mesma opinião”
escrevia para Paris a cunhada de Eça de Queiroz, após participar do velório da imperatriz
 Teresa na cidade do Porto, junto com freiras que deram assistência a esta 
cerimônia, todas encantadas com o rapaz filho da princesa Leopoldina:
 tímido, loiro e de grandes olhos azuis.

O rapaz bonito que encantou as cortes europeias ao lado do avô
ficou conhecido como  “aquele que vai ser imperador”.

Inteligente, ambicioso, belo, imaturo e com família paterna espalhada por várias casas reinantes importantes. A Rainha Vitória ficou encantada com ele, o Rei da Bélgica tratou-o com grande deferência e formalidade, eram ambos da "Tribo dos Coburgos". O primeiro neto do imperante brasileiro também era era sobrinho do Czar da Bulgária e primo do Rei de Portugal. Seria um sucesso internacional como Pedro III ! Todavia é preciso atentar para um comentário do Visconde de Nioac sobre ele: É moço, vaidoso e egoísta ! O apoio ao príncipe crescia em número e em peso político: os barões de Maia Monteiro e da Estrela, o conde de Figueiredo, o marquês de Paranaguá - entre outras fuguras de renome - e até mesmo a própria imperatriz, tornaram-se todos seus partidários declarados na sucessão do trono. Nas palavras do embaixador de Portugal: "É inteligente, bastante instruído para a sua idade, muito simpático e popular. Há neste país um grande número de monarquistas que entendem que, na falta do atual imperador, a monarquia ficaria mais solidamente construída com Pedro do que com a princesa Isabel".


Click para acessar: Pedro III - do Império das circunstâncias para a República dos fatos
Monografia de Bharbara Ceccon - PUC/RS


Os jornais franceses noticiaram a visita.





 Os imperantes, o príncipe neto Pedro Augusto, o médico
 Motta Maia e o camareiro visconde de Nioac.
Retratados na viagem de 1887-88





Maria Antónia, Duquesa de Parma por casamento, tornou-se consorte de uma
das casas ducais reinantes mais abastadas da Europa. Uma visão
modelar da imperatriz que Pedro II sonhou ter ao
seu lado: bonita, elegante e culta.

Descansando em Cannes o imperador procurava esquecer os problemas brasileiros, um pouco antes da recaída quase mortal da sua saúde, um verdadeiro colapso que ocorreria  em Milão. Seu agravado quadro clínico foi revertido com injeções de cafeína, remédio digamos perfeito para um imperador do Brasil. Neste clima de férias, antes do colapso, D. Pedro II encantou-se com beleza e a elegância de sua prima: a Duquesa de Parma. Filha mais nova de D. Miguel I de Portugal, então com 26 anos, casou-se com um dos nobres mais ricos da Europa. Maria Antónia, estava hospedada no mesmo hotel que PII, e também em tratamento de saúde, acompanhada de seu segundo filho Sixto, de quase dois anos de idade, tanto a duquesa como o menino tinham problemas pulmonares. Ficou sendo registrada nas citações do diário de PII por dias, o imperial senhor possuía um romantismo do tamanho do Brasil, estava impressionadíssimo e só tinha olhos para a elegância dela.


Mesmo doente continuava a apreciar o porte nobre das mulheres bem vestidas e impositivas. De fato as filhas e netas de D. Miguel I, o exilado irmão de D. Pedro I, casado com Adelaide de Löwenstein-Wertheim-Rosenberg, mostraram-se princesas morenas de grande beleza e foram muito bem recebidas como consortes em várias casas reais europeias. Frequentemente a imperatriz D. Teresa era deixada descansando em hotéis ou estações de águas, como foi nesta ocasião aqui comentada. D Pedro II estava sem a companhia dela  quando deparou-se com a Duquesa Maria Antónia. Outro fato interessante e uma constante nos diários das comitivas: poucos aguentavam o ritmo de visitas e passeios das viagem de D. Pedro, livre da problemática governamental brasileira, da imperatriz napolitana claudicante e sozinho na França, ficava até bom dos males do corpo.

A refinada Infanta de Portugal- ramo miguelista -
cativou a atenção do velho imperador na França.

É constante na historiografia dessa década de 80, o comentário sobre o ritmo incessante de vida, trabalho, leitura e pesquisa ao qual o imperador se auto condenou, esta sanha por expansão intelectual também fez com que o seu envelhecimento estivesse muito adiantado, com 45 anos já parecia um ancião, fica claro que lhe faltava lazer no Brasil.
 
   Paris em 1887.

Alguns historiadores apontam uma  certa "ditadura da moralidade"  como sendo a capa protetora e artificial criada pelo imperador para elevar sua figura pública ao ponto seguro e referencial, pairando então diferenciado sobre a sociedade brasileira e transparecendo ao resto do mundo  uma figura de perfil admirável. Esta que descrevo era exatamente a estratégia de sobrevivência institucional dele, acrescendo-se a discreta figura da imperatriz silenciosa. Como seu reinado durou quase meio século, acredito que no quesito imagem pública, tudo funcionou muito bem.


Acredito que ele tenha mesmo abusado deste marketing pessoal, mas que outra forma de proceder seria mais aplicável do que esta? Despesas e luxo, talvez prepotência  e arrogância, teriam sido mais bem aceitas que a impostação científica e a tal " ditadura da moralidade " ? Criticaram as três férias que passou no exterior, sendo uma delas para tratar-se de grave enfermidade. Fora as férias e o caso do roubo das jóias, nada mais há para denegrir a discreta figura do monarca que já nasceu velho, nem a juventude foi lhe dada ! Os Condes D'Eu  eram mal vistos, discretos mas muito mais distantes da realidade, fracassaram em cativar apoio e incentivos.




Dr. Mota Maia e o paciente imperial.

 O imperador e seu médico francês 
Dr. Charcot em Cannes -1888.


Sátira sobre os banhos de águas termais na Suíça, pobre Pedro II, na hora
 de morrer a elite do país obliterou o respeito pela vida
dedicada  à construção da nossa nação.
 
A saúde de D. Pedro II declinava acentuadamente já havia algum tempo, o tamanho da burocracia administrativa e dos problemas brasileiros não cessava de aumentar em função do crescimento econômico trazido pelo café. Ele sofria por ser obrigado a ler, criticar e aprovar uma imensa quantidade de leis, contas públicas, problemas comerciais, religiosos e diplomáticos; sentia-se cansado. Do Barão Von Seiller – embaixador da Áustria - : " Fiquei muito mal impressionado com o aspecto do imperador. Envelheceu muito, está magro, rosto abatido e não tem a mesma alegria de antes. Dá a impressão que tem dificuldade de falar. Em suma, é um homem doente ". Sua memória estava muito abalada , esquecia-se de tudo e temia-se pela perda da sanidade mental



A visita da jovem República à Monarquia moribunda!
Ao fundo um casal brinca com uma criança pequena,
o primeiro filho  de D. Isabel  não teria tempo
 hábil para crescer e suceder o avô.

O primeiro neto talvez fosse a melhor opção aceitável pela opinião pública para o difícil momento da sucessão. D. Isabel estava desgastada devido ao seu notório desinteresse pela política, pelo excesso de carolices católicas, além do impopular sotaque francês do seu núcleo familiar. Mas ela tinha um grande trunfo aguardando o momento certo de ser posto na mesa do jogo político nacional: a libertação dos escravos.

 
Soberba imagem do aparentemente moribundo
 imperador em Paris 1887.

A imperatriz envelhecida posa
 nesta mesma viagem.


Enquanto isto no Brasil, D. Isabel tentava findar com a escravidão e salvar a monarquia brasileira:

Navio negreiro.



Os próprios africanos se encarregavam de aprisionar e vender seus compatriotas, havia a secular tradição de escravidão na África. Os navios apenas aportavam e carregavam, pagavam muitas vezes com fumo e aguardente, e zarpavam para o Brasil. Muitos  escravos alforriados no Brasil retornaram à África para dedicar-se ao lucrativo tráfico de seres humanos. Era normal ! Com a lei Euzébio de Queiroz, que proibiu o tráfico de negros entre os dois continentes, surgiu a prática da translocação desta mão-de-obra entre as províncias e as regiões do país, mas frequentemente do Nordeste para o Sudeste. Entre 1864 e 1874, o número de escravos no Nordeste declinou  de 7744 mil para 435 mil, enquanto que nas regiões cafeeiras aumentou de 645 mil para 809 mil. Entre 1855 e 1875 o valor do negro cativo triplicou de preço



Diagramas de disposição de escravos africanos em de navios negreiros.





"Nobres no convés e os negros no porão
Conte de um até dez e prenda a respiração
Quem controla o passado tem o futuro à mão
Conheça sua história, não durma, irmão

Fique esperto, liberto de qualquer exploração
Mais perto do certo, andar com atenção
Antropofagia pra fugir da tensão
Sardinha no cardápio pra fazer a digestão."



Rafael Pirralho




 
 
 A escravidão sempre foi uma realidade africana, tornar-se produto de exportação foi 
uma consequência natural  do tamanho que a prática adquiriu com passar
 dos séculos.Acima estão à mostra cenas de escravidão de africanos na 
África. Reinos nos atuais Benin e Togo praticavam a manutenção,
aprisionamento e tráfico de escravos  negros, muitos 
escravos brasileiros alforriados voltaram
à origem  para lá praticarem o tráfico
de escravos negros para o Brasil.
A mentalidade da época não
deve ser julgada com
critérios atuais.

 Principais rotas de escravos africanos durante a Idade Média.

As históricas rotas do tráfico dos escravos africanos para a América.Entre 1840 e 1850, entraram
em média, 30-40 mil negros por ano, a diferença entre o custo do escravo na África e
sua revenda no Brasil era de vinte vezes.



A Escravidão chegaria ao fim em 1888.


O clássico caso das escravas adolescentes Joana e Eduarda: torturadas, martirizadas,
e por fim assassinadas pela perversidade de sua proprietária, nos mostra
 os horrores aos quais os negros estavam sujeitos.
Em 1871, enquanto o imperador viajava, o gabinete conservador,
que governava o país sob a regência da princesa imperial,
 aprovou  a Lei do Ventre livre que libertava os nascidos
 de ventre escravo a partir da aprovação da lei.
A escravidão era a chaga do Brasil Imperial.

D. Isabel iria usar este grandioso trunfo, guardou-o para a ocasião mais propícia, a redenção
dos escravos tanto poderia mudar o jogo a favor dela, como poderia acabar com ele.






Fotos artísticas de escravos do Séc. XIX - poses arranjadas mostravam a vergonha do Império.
O problema da escravidão era econômico, o prejuízo causado pela Abolição sem indenização
 iria varrer do cenário político a figura emblemática de Pedro II. A demora na resolução
do problema mostrava que o Império não se manteria sem a escravidão, logo estaria
ultrapassado como sistema de governo, o avanço do diabetes tipo 2 enfraqueceu
o corpo e o interesse de Pedro II pelo governo, como não tinha sucessor
a sua altura, tudo começou a se decompor , culminando no
golpe militar que estabeleceu a ditadura sem eleições.

Escravos oriundos de diferentes
nações africanas.






África viva ! Realidade cultural transplantada ! A escravidão brasileira é irmã gêmea da Monarquia ! O Brasil foi o último país do continente a abolir a escravatura, 15 anos depois de Porto Rico e 2 depois de Cuba. Disse uma alemã que vivia no Brasil: “ Todo o trabalho é realizado pelos pretos, toda riqueza é adquirida por mãos negras, porque brasileiro branco não trabalha”Para bem ilustrar as relações inter-raciais  da época citamos o mulato abolicionista Luís Gama, filho de um fidalgo com uma escrava negra, relata que foi vendido pelo próprio pai durante uma crise financeira na família. José do Patrocínio era natural de Campos dos Goytacazes, filho de um padre e uma escrava, após uma brilhante carreira como jornalista e abolicionista, foi designado embaixador do governo republicano nos Estados Unidos, foi tão admirado, que ao falecer, teve honras de chefe de Estado, seu corpo foi especialmente transportado para o Brasil por um navio de guerra norte-americano.


Na charge temos o imperador, atiçando os cães abolicionista
e o escravagista, um contra outro.

Sátira mostrando o ilustrado e científico imperador brasileiro, mas sempre acompanhado
 da sobrecarregada "escravidão brasileira", sendo recebido num
hipotético congresso internacional.


 O imperador recebe camélias de duas crianças, a flor era o um símbolo
adotado pelos abolicionistas e pela princesa Isabel na luta pela libertação.







Folgueto dos negros cativos, procissões com reis honorários, estandartes,
 batuques e muita alegria; foi o início das práticas carnavalescas.


Sempre descalços.

 
Secando o café ao sol no terreiro e na colheita desta mesma cultura,
as fotos nos mostram cenas da vida econômica desta época.



Fazendeiros e seus escravos.



O Império ameaçado joga seus trunfos
 na mesa do jogo político.


A Lei Áurea libertou cerca de 700 mil escravos. No Rio de Janeiro em cerca
 de 1887, ainda havia 7 mil escravos e em São Paulo eram próximos de 600.


A apresentação prévia da lei para apreciação da princesa
regente, uma rara visão de como era o cerimonial imperial.



Rodrigo Augusto da Silva era "Ministro" da Agricultura.

 


 O vestido de tafetá usado no dia da Abolição.
 
“Esse vestido a Princesa Isabel utilizou primeiramente para prestar juramento como Regente do Império do Brasil em 1871 e depois foi utilizado para a assinatura da Lei Áurea em 1888. A Família Real mantinha relações de amizade com a família de Henriqueta Catharino, então o neto  da princesa ( D. João - à esq. ) resolveu doar para o Instituto Feminino da Bahia, porque sabia que seria preservado. Ele sabia que em algum momento o vestido seria exposto a visitação, como está hoje em dia”   do Blog Monarquia Já

Nas imagens seguintes: o Senado e a princesa  aprovando a Lei Áurea.


Foi o Conselheiro Rodrigo Augusto da Silva que apresentou o projeto de extinção incondicional da escravidão, a medida foi promulgada em apenas 5 dias. Oitenta e três deputados votaram a favor e apenas nove contra, quase todos da Província do Rio de Janeiro, que devido a forte cafeicultura era um pólo de anti-abolicionistas

A assinatura da Lei Áurea contou com a presença dos filhos e amigos.





Lei do Ventre Livre - 1871.

Talvez a verdadeira lei que redimiu a escravidão tenha sido a Lei do Ventre Livre, a população
 de escravos liberta pela Lei Áurea era pequena, cerca de 15% dos negros do Brasil. A Condessa
 de Barral indicava mudar o nome dessa importante lei: em francês "ventre livre" significava
diarréia, ela recomendava  o nome Lei dos Recém Nascidos.


A monarquia tropeça e cai, restou o trono
original do prédio do Senado, que de
pronto percebe-se como inspirado
no trono da Espanha.

Durante a terceira regência da princesa seria aprovada a lei que aboliria definitivamente a escravidão no país. Havia na época cerca de 700 mil escravos numa população de 15 milhões de brasileiros, já tinham sido mais de 3 milhões, as sucessivas leis foram diminuindo a proporção de escravos.









 Embalagem de fumo com propaganda abolicionista.


Outro rótulo de fumo da época, com um recado à monarquia :" Indemnisação ou Repúblca". 
O prejuízo com a abolição  resultaria na queda da monarquia, estava claro para quaquer um.

Andrade Figueira: O que fizeram as nações europeias que tiveram escravos em suas colônias quando resolveram emancipá-los? Além da indenização votada, procuraram fundar estabelecimentos de crédito que proporcionassem aos lavradores o capital suplementar sem o qual a transformação não é possível. Se hoje o escravo representa para o proprietário, não só o braço, mas também o capital - capital flutuante-, porque lhe custou dinheiro, aniquilando este duplo elemento de produção, qual é o capital disponível, que resta á grande maioria de nossos lavradores, para assalariar o trabalho livre? Quais são os estabelecimentos de crédito criados para vir-lhes em auxílio?.


Com a crescente emigração de europeus atraído pela riqueza trazida pela lavoura
 de café, o cenário dos trabalhadores nas ruas foi mudando aos poucos, mas os pés
descalços permaneceram, na foto são garrafeiros.


Cogitou-se na época, implantar o patronato, o modelo cubano de abolição: após a aprovação da lei libertadora, ainda por dois anos os negros trabalhariam, por salários, nas antigas funções agrícolas, evitando assim o caos econômico. A ideia foi descartada por D. Isabel e abolicionistas, entenderam que no Brasil o modelo se repetiria naturalmente; dada a falta de destino, abrigo, trabalho e alimentação dos escravos libertos.






O Império, por motivos financeiros, não teria como indenizar os senhores de escravos . "O Brasil não é bastante rico para apagar o seu crime", explicou o abolicionista e monarquista Joaquim Nabuco. Os 700 mil escravos existentes  valeriam cerca de 210 milhões de conto de réis, o orçamento do Império era de 165 milhões, seria impossível  indenizar.


 
Bilhete de D. Isabel para o pai então praticamente moribundo em Milão na Itália, comunicando-lhe o fim da escravidão no Brasil e o término da grande vergonha do Império. Ao saber da notícia o  imperador acamado disse: Demos graças a Deus – Grande povo ! Grande Povo!
E chorou copiosamente


D. Isabel se tornaria popular o suficiente
para ser consolidada como monarca do Brasil ?

"A triste verificação da realidade é esta: toleraram-na, a duras penas, nas Regências, por seu caráter de interinidade, eventual e passageiro; e acima de tudo pelo respeito que tinham ao Imperador. Mas daí a tê-la efetivada no trono. Atente-se para este fato, altamente significativo: toda vez que ela assumia a Regência aflorou, sobretudo nas camadas políticas e conservadoras do Império, um mal-estar a custo reprimido, porque revestido de verdadeira, que tocava as raias da repulsa que vinha de longe, muito longe, a resistir teimosamente ao tempo, nascida de um arcáico preconceito que continuava inexplicavelmente  muito vivonos fins do Império, a opor-se ao envolvimento da mulher nos manejos políticos e muito mais ainda na administração propriamente dita de negócios de Estado."

 Hermes Vieira em: Princesa Isabel - 
Uma vida de Luzes e Sombras.

Carta de D. Isabel ao Visconde de Santa Victória , já após a
assinatura da Lei Áurea, na qual ela expõe seu planos
de governo e demonstra uma ousadia de
metas que nos faz ponderar se de
fato seria apenas uma senhora
despreparada para exercer
o poder máximo do
Império.

Portanto não foi por acaso a sanção dessa lei, mas sim feita numa ocasião estratégica e especialmente escolhida. D. Pedro II estava enfraquecido , mal andava e quase morreu em Milão, chegou a receber a extrema unção, recuperou-se em seguida à notícia da abolição, mas já se sabia que seu diabetes descontrolado não iria lhe permitir muitos anos a mais de vida. D. Pedro II melhorou muito de saúde após receber a valorosa notícia e ainda viveria mais três anos, todavia com a depressão do exílio forçado sua saúde voltaria a ficar crítica no final de 1991.




O Imperador recebia, respeitosa e frequentemente, o auto intitulado - Rei dos Escravos do Rio e Príncipe do Daomé: Dom Obá II, outros chamavam de "Príncipe das Ruas". Essa curiosa figura popular é muito eloquente para demonstrar algumas das cores da escravidão brasileira . Não perdia as audiências públicas de Pedro II aos sábados na Quinta da Boa Vista, ao fazer campanha para ser nomeado embaixador do Império do Brasil na Costa da África Ocidental, forneceu assim munição grossa para a sátira política da época.
 

 Obá II D'África, ainda como um jovem soldado,
se destacaria na Guerra do Paraguay.

Sua história demonstra muito bem que havia total acesso à pessoa do Imperador, e que o mesmo não fazia julgamentos preconceituosos ou tinha ares elitistas, e a todos recebia, inclusive escravos. Uma escrava levou algumas frutas para Pedro II em agradecimento ao auxílio dele numa pendência, barrada no Paço pelos guardas, vociferou. D. Pedro ouviu a confusão, foi olhar da sacada e disse para escrava, lembrando seu nome: "Eva pode subir ! " - e os guardas conduziram a humilde mulher à presença dele.
 

Tratava-se de um humilde ex-alferes do exército, chamava-se Cândido da Fonseca Galvão, nascido em Lençóis na Bahia em 1845. Filho de africano forro, trabalhando por conta em várias funções após sua baixa militar em 1871; pobre e sem propriedades, porém com algum passado na nobreza africana, arrecadava "impostos" de seus súditos.


“Vivia na majestade de uma
 soberania que ninguém
 se atreveu jamais 
a contestar”.


Sendo de fato neto do maior imperador yorubá, o rei Alafin Abiodun, responsável pela unificação deste império africano, tinha grande autoridade moral, além de comando social, entre "pardos e pretos" cariocas. Após o fim da monarquia e com o exílio forçado do imperador, deprimiu-se diante da nova realidade republicana e faleceu logo em seguida, em 1890, foi uma figura inequivocamente brasileira e sempre muito respeitado, até mesmo pelos imperantes.







Com a assinatura da Lei Áurea em 1888 , findavam a escravidão , e por consequência, a monarquia no Brasil. D. Isabel deu xeque, tentando obter popularidade, a oposição republicana, os militares e a elite econômica, após um ano e meio, responderam com um xeque-mate no regime, uma resposta por se libertar os escravos sem qualquer forma de compensação.

 
 
Após o ato de assinatura da lei ouviu do ministro Barão de Cotegipe: A senhora redimiu uma raça , mas perdeu o trono ! ; retrucou: Mil tronos tivesse, mil tronos daria ! . Ele disse : eu vou para ali ( a rua ) e a senhora vai para lá !( a barra do porto em direção à Europa ). Após a desejada abolição os republicanos, anteriormente abolicionistas ferrenhos, mudaram de opinião, e ladinamente passaram a ser a favor da indenização dos cafeicultores que perderam a escravaria. De Candido Tostes , um dos homens mais ricos de Minas Gerais: “ a celebérrima lei de 13 maio, obra monumental dessa idiota que só pensa em receber a Rosa de Ouro do papa e ser canonizada (...) vai ser enxotada pela barra afora”


Augusto Leopoldo em trajes japoneses durante a viagem do navio Alm. Barroso ao Japão.
Foi  recebido pelo monarca japonês, comunicando-se em francês com os
tradutores,convidou o monarca a visitar o Brasil.

Todavia, profética, foi a frase certeira e sintética do Príncipe Augusto Leopoldo - foto abaixo - para o seu então motivado irmão conspirador Pedro; sentencia e resume tudo: " Deixa disso que a sucessão não é dela ( D. Isabel), nem do maneta ( Pedro - filho de D. Isabel ) , nem do surdo ( Gaston ), nem sua também ! " .


Gusty Jr. - "O Príncipe Marinheiro":  de espírito, gostos e modo de vida muito
semelhantes ao do pai, era um Saxe-Coburgo típico. Era atlético e radiante, o oposto do
 irmão e do avô, dizem que por isso, por este contraste,  seria ele o neto preferido de Pedro II.






"Pra Isabel a heroína, que assinou a lei divina

Negro dançou, comemorou, o fim da sina" 

A abolição fez aumentar momentaneamente a popularidade da herdeira do trono nas classes mais baixas, tornando-a inversamente antipatizada pelo elite cafeicultora prejudicada no seu patrimônio pela perda da mão-de-obra escrava. D. Isabel disse no exílio: ela e o pai esperavam uma transição lenta para o regime republicano, quando os representantes republicanos tivessem mais da metade do legislativo a mudança de regime seria natural e democrática, não esperavam um golpe e muito menos um exílio instantâneo.





















"A Monarquia no Brasil está assim colocada:
ou salva-se com os escravos ou desaparece com os escravos."

José do Patrocínio






Finalmente livres , comemoram Pedro I e 
o índio simbolizando a terra brasileira

Alegoria romântica à
Libertação dos Escravos.






O Império se desatrelava da sua principal peça de sustentação.

Manifestação popular comemorativa à assinatura da Lei Áurea,em frente ao
antigo Paço dos Vice-Reis, enquanto isso " o velho" agonizava em Milão


"Foi o único delírio popular
 que me lembro ter visto."

 Machado de Assis


"Eu vejo a Monarquia em sério 
perigo e quase condenada." 

Joaquim Nabuco



Jornal abolicionista engalanado e
comemorando o fim da escravidão.

Foto épica da missa em comemoração à Abolição da Escravidão - em 17 de maio 1888 no
 Campo de São Cristóvão - vê-se a princesa e o esposo à esquerda, sob o baldaquino
- amplie e veja a bela imagem de época.

Entra para a História do Brasil
como: "A Redentora".

 Acima uma das famosa penas de ouro com a qual a lei foi assinada, um especial presente dos abolicionistas para a assinatura da princesa-regente, deu nome ou está associada à lei, foi recentemente adquirida pelo Museu Imperial junto a um bisneto da princesa por R$ 500 mil. Foram assinadas três vias da lei, cada uma como uma pena de ouro, as outras duas penas utilizadas encontram-se em poder do Museu da Maçonaria, na sede do Grande Oriente do Brasil.



D. Pedro II tinha simpatias ocultas pela República, considerava, talvez, que respeitariam a importância do seu longo governo para a unidade e formação do país, mudariam a forma de governo apenas após o seu desaparecimento. Imaginava uma transição suave para o mais moderno e democrático regime republicano, na imprensa norte-americana o nosso imperador era tido com altamente democrático e de espírito evidentemente republicano para com a gestão dos recursos públicos, um híbrido entre a nobreza superior e autocrática dos Habsburgs austríacos e o espírito democrata e progressista vigente nos EUA.


O imperador ao retornar de sua viagem à Europa em agosto 1888, tinha a aparência de um inválido, sem ânimo para nada e evidentemente sem condições de governar. Dava a impressão de de um homem velho de corpo e de espírito, com aparência de um ancião, barba e cabelos embranquecidos, andar pesado e arrastado,  foi uma surpresa, era dado como certo o seu falecimento. A saudação na fachada da farmácia mostra o carinho popular para com ele, todavia os gabinetes estavam cada vez mais criticados e esta época mostra-se politicamente conturbada. Suas pernas estavam cambaleantes e ele se locomovia sem segurança, seu aspecto físico era crítico, sua pujante memória começa a falhar, sua atenção aos assuntos políticos era mínima. Corriam rumores que ele iria abdicar na data do seu aniversário, nunca a monarquia tinha estado tão abalada e sem rumo, a saúde do velho imperador tinha peremptoriamente acabado.




Talvez por esta certeza de que a transição de Estado ocorreria paulatinamente, não manteve reservas em dinheiro e nem propriedades fora do país. Ao contrário vivia atolado em dívidas, sua dotação financeira sempre foi pequena mas sentia-se, até por isto, relativamente seguro no trono. Pensadores expandem a tese : se tivesse havido uma indenização pelos escravos libertos, talvez títulos resgatáveis em 30 anos, teríamos chances de ter tido um D. Pedro III ou uma D. Isabel I, antes da inexorável república.


Embaixo da fantástica imagem do velho governante, eu proclamo que depois dele
nenhum outro foi mais respeitável ou austero, foi apenas na sombra dele que
 consegui ter admiração por alguém bem brasileiro.


A cultura e a ilustração deste governante, tão celebradas e reconhecidas
fora do país, eram motivo de chacota por parte da imprensa.

Reparem o chapéu de burro e a palmatória na parede !






O casal de imperantes mostrava acentuado declínio físico após quatro décadas de reinado conjunto, a República não conseguiu esperar a morte do monarca ancião. A imperatriz sofria de neuralgia e problemas cardíacos, esteve impossibilitada de andar algumas vezes Avançaram no tempo com a proclamação, surpreendendo-os com uma expulsão e exílio instantâneos.





Décadas antes, a Condessa de Barral já alertava sobre a vida sedentária do imperador e suas possíveis consequências físicas: “Vou vendo que sua saúde tão boa vai também sofrendo alterações agora. Tome alguns purgantes. (...) V. está muito gordo. (...) Não leia depois da comida”. E reitera: “Meu querido amigo, v. passa a metade da sua vida deitado, isso não pode nem deve ser bom para a saúde. Nem tanta atividade como a minha, nem tanta indolência como a sua. A cada instante v. vai para a sua chaise longue e está caindo de sono? Lembre-se do que tenho dito tantas vezes. Tenha dó de mim, cuide-me na sua saúde, durma que é mister dormir, coma mais devagar, ande mais a pé, não leia logo que sair da mesa que gozará de melhor saúde e poderá trabalhar com maior proveito.” O imperador responde: “Não é deitado, mas assentado em cadeira de balanço onde muitas vezes bem acordado.”

 
O diabetes  fazia-o cochilar à toa, aproveitando-se da situação de evidente
 senilidade, a imprensa republicana acusava-o de descaso político.


Ele mostrava-se realmente cansado após tantas décadas de governo. Quando comunicado da inevitável queda da monarquia, disse : "Agora vou poder me aposentar! " . Não imaginava a imposição de uma lei de banimento e da obrigação da venda dos imóveis à toda a sua família !

Com a idade avançando, chamado então pela imprensa de Pedro Banana,
perdeu o respeito e virou uma caricatura de si mesmo.

Defendeu ao longo da sua vida a plena liberdade de imprensa e acatava as críticas como não sendo pessoais, as chacotas ladinas visavam sensibilizar principalmente as camadas mais simples da população, através do humor típico do brasileiro.D. Pedro II, por perfil pessoal, contrariava a brasilidade festiva e malemolente, seus valores puritanos seriam alienígenas à cultura nacional, algo como “um pastor protestante a oficiar em catedral católica”. De certo, nunca mais teríamos um governante tão digno e bem educado como este filho da Arquiduquesa Leopoldina , depois dele foi só empáfia e gastança.


Estas paródias foram pioneiras como veículo de comunicação social, até
hoje parecem artísticas e muito bem feitas, além de ainda engraçadas.

R. Barman na Rev. IHGB Out/Nov 1973.




A Princesa Isabel em 6 de novembro de 1888, há quem diga que foi 1884, agradeceu à Nossa Senhora Aparecida a graça alcançada: o nascimentos de seus filhos. Entregou ao seu santuário uma pequena coroa de ouro em forma de globo com uma cruz, cravejada de diamantes e rubis e talvez, tenho dúvidas, um rico manto azul-marinho, com 21 brilhantes representando as 21 Províncias do Império do Brasil. Também já li que está história é falsa e que não foi a princesa a doadora destes presentes à famosa imagem , por via das dúvida registro minhas incertezas. Abaixo um quadro guardado no Vaticano e representativo da imagem, já com sua silhueta triangular atual, porém com o manto original, provavelmente remetido ao papa pela devota princesa imperial.


A coroa ainda hoje orna a cabeça da pequena imagem,
o manto deu à padroeira sua peculiar silhueta triangular.


A fama de ser extremamente carola e ligada à Igreja Romana era exposta de forma negativa, a educação e as dificuldades da vida fizeram brotar no coração da princesa uma imensa e sincera fé. Era respeitada pelo povo e mal vista pela elite que dominava de fato o país. Provavelmente a notável formação católica da princesa se deva à influência da imperatriz napolitana, o imperador não era homem de fé exacerbada, ao contrário era um homem de ciência, já sua mãe napolitana trazia uma forte primazia dinástica de submissão ao papa. Talvez tenha sido desta fonte borbônica napolitana de fé que a princesa tenha bebido desde pequena. Também a Condessa de Barral era uma mulher de evidente fé católica, como foi muito influente na formação afrancesada de D. Isabel, podemos observar nela um tanto de catolicismo francês em sua religiosidade.



Rio de Janeiro em foto do ano de 1889, ano do fim da monarquia.


"À frente dessa corrente de hostilidade contra o casal ( D'Eu ) estavam, como era natural, os republicanos, depois os grandes proprietários de escravos, por causa das idéias abolicionistas da princesa, sobretudo depois da votação da Lei de 13 de maio [...] não lhe suportavam o marido, que apesar de tudo que fazia para se identificar com o meio brasileiro, continuava a ser tido como um estrangeiro, como um intruso, e em todos os sentidos um indesejável. Essa pouca simpatia que se tinha da princesa, a onda de impopularidade que a cercava foi, talvez, um dos fatores que mais concorreram para a impossibilidade da manutenção da Monarquia no Brasil. Merecedora  do maior por suas excelentes qualidades do coração e as virtudes pessoais, como mulher e mãe de família, dificilmente a toleravam na posição oficial e no papel político que lhe cabia dentro da Constituição do Império [...] Isso explica a repulsa que havia ante a possibilidade de o País vir a ser governado pela Princesa, de ela se tornar chefe de Estado e Poder Moderador, de se intrometer no jogo dos partidos, na formação das Câmaras e dos Gabinetes. Esse sentimento de repugnância pela mulher dirigindo os negócios públicos, estava te tal forma enraizado na mentalidade dos nossos estadistas e da opinião pública em geral, que vinha à tona toda vez que, ausente do país o Imperador, a filha tinha que assumir a regência do Império.[...] Do roseiral festivo dos louvores até pouco entoados ( pela Abolição ); iriam restar apenas, dentro em breve, os acúleos secos das roseira mortas..."

Heitor Lyra - historiador



" Gastão de Orléans, Conde D'Eu, (...) é o futuro imperador do Brasil."
 do jornal baiano República Federal em abril de 1889


O Conde D'Eu foi enviado em viagem oficial de três meses para as províncias do nordeste e norte, na tentativa de angariar simpatias. Alguns viram nele o "coveiro da monarquia", o sotaque francês "senhorrr baronnn" em nada ajudava o liberal príncipe francês, libertador dos escravos paraguaios. Logo ele que era o grande antipático foi fazer campanha de relações públicas, contudo foi bem recebido mostrando que a monarquia continuava popular naquelas regiões.




Num momento decisivo para o futuro da monarquia, a casa
 reinante  apoiava-se tão somente na memória de um
 passado de estabilidade que deu ao país.





D. Isabel I do Brasil 
A Redentora
?????


A incapacidade física de Pedro II obrigaria a
 elite política a gerar um novo governante.
Nenhum membro da realeza nacional
tinha carisma ou perfil para
substituí-lo à altura.


Todavia, ficava patente e potencializada sua possível e temida grande influência num reinado de sua esposa, a missão dada ao conde não foi bem pensada, mais pareceu um grande contra-senso. Foi perseguido pelo republicano Silva Jardim, este lhe fazia irada oposição, fazendo-lhe um agressivo corpo a corpo. Muito mais tarde, já em tempos republicanos, o perseguidor morreria ao cair na cratera de um vulcão nas Ilhas Canárias ! Sujeito sem sorte este republicano ! Enquanto o Conde D’Eu fazia sua embaixada de relações pública  no nordeste do país, um novo ministério assumia o governo na capital,  o Visconde do Ouro Preto seria o líder do ministério que contaria com todas as simpatias da princesa imperial, o reinado da Redentora começa a mostrar-se, criando imediatas resistências.


1888- " o velho voltou " para viver
 o último ano do Império.


Os imperadores na intimidade, o médico Motta Maia sempre
por perto, como um anjo de guarda de Pedro II.


Última foto da família no Brasil, dias antes da proclamação, na varanda da casa da princesa em 1889. As disputas intestinas entre tia e sobrinho pela sucessão do trono eram veladas. Os republicanos pareciam apoiar o rapaz, mas queriam apenas desgastar a princesa e o pai. O velho imperador que deveria ter falecido na Europa de "colapso bulbar", voltou ressuscitado e atuante.



Ao centro o Conde D'Eu e o futuro proclamador da República - Mal. Deodoro da Fonseca - em 1885, então, e até a proclamação da república, eram amigos cordiais. D.Pedro recusava-se a acreditar, a princípio, no envolvimento deste marechal na quartelada, o Marechal foi movido mais por vaidade que por ideologia.



Os governantes do mundo em 1889: PII de calças brancas.




Envelhecido e sem a energia de antes, acuado
 pelas cobranças e pela pouca saúde, 
tenta reverter seu ocaso de rei.



A Ilha Fiscal situa-se bem próxima ao centro do Rio de Janeiro e pertence à Marinha Brasileira, o castelo neogótico foi mandado erguer pelo próprio imperador, destinado a ser um vistoso entreposto aduaneiro. A escolha do local para a "maior recepção da história imperial" não foi por acaso, o Paço de São Cristóvão estaria mais vulnerável a um possível e mesmo já considerado golpe constitucional do exército. Próximos às instalações da Marinha Imperial estariam todos mais seguros contra surpresas inesperadas.

A neogótica arquitetura da Ilha Fiscal era moda na época, algumas igrejas e prédios deste tempo mostram-se com o mesmo traço visual bastante contrastante e destoante com a natureza do país.




Uma inequivocamente suntuosa recepção à tripulação de um navio de guerra chileno, em 9 de novembro de 1889, foi o último evento do império brasileiro e talvez o mais caro já realizado em todo este período. A grandiosa festa era, também e secundariamente, uma comemoração pelas bodas de prata do casamento da Princesa Isabel. Um magnífico sarau para quase cinco mil pessoas, ficou estigmatizado pela riqueza do cardápio e pela presença de toda a família imperial. Enquanto a festa acontecia, no Clube Militar, se reuniam os oficiais que desejavam a Proclamação da República, era mais ou menos sabido, através de rumores, que o golpe logo aconteceria.

 O baile foi até o sol raiar e marcou o fim de uma época. D. Pedro II ficou sentado o
 tempo todo e saiu sem jantar. D. Isabel, ricamente vestida, bailou e aproveitou a
 festa que também comemorava suas bodas de prata.

Cardápio do banquete.

Até o cafezinho teve louça especial.

O inventário dos comes e bebes imperiais:

“ 3.000 pratos de sopa, 50 caixas de peixes grandes, 800 latas de lagosta, 800kg de camarões, 100 latas de salmão, 3.000 latas de ervilhas, 1.200 latas de aspargos, 400 diferentes saladas, 800 latas de trufas, 12.000 frituras, 3.500 peças de caça miúdas, 1.500 costeletas de carneiro, 1.200 frangos, 250 galinhas, 500 perus, 64 faisões, 80 patos, 23 cabritos, 25 porcos, 18.000 frutas, 1.200 pratos de doces, 20.000 sanduíches, 14.000 sorvetes e 50 toneladas de gelo. Tudo isto regado a 10.000 litros de cerveja, 80 caixas de champanhe, vinte de vinho branco, 78 de vinho tinto inclusos Bordeax e Borgonha franceses, 90 vinhos de sobremesa, além de 26 conhaques, vermutes e outros licores “

O esforço para abrilhantar e dar viço ao Império ameaçado é perceptível nos números, foi uma exibição de vigor destinada a desanimar os militares e republicanos. Não foi a toa que este baile ficou tão marcado e famoso, esta comemoração deve ter sido não só a última, mas a maior comemoração do Império do Brasil. Não podemos esquecer de outra singular e muito pouco frequente recepção que Príncipe Pedro Augusto ofereceu aos mesmos oficiais chilenos no Paço Leopoldina alguns dias antes, a festa pasmou o Conde D'Eu pelo requinte, e sobre a qual ele escreveu : "nunca vi algo igual no Brasil".



" Por ora, a cor do governo é puramente militar e deverá ser 
assim.O fato foi deles, deles só,  porque a colaboração
do elemento civil foi quase nula."

Aristides Lobo

A "Alegoria à República" na Revista Illustrada mostra tudo: O inteligente e ajoelhado Benjamin Constant faz a oferenda da coroa imperial. Ele tirou da cama o já um tanto esclerosado Deodoro - ao fundo com chapéu na mão-  para obter um aval de grande respeito para a quartelada ."O povo assistiu bestificado! " escreveu depois Aristides Lobo, companheiro de Constant e republicano de primeira hora. Parecia apenas uma parada de militares insatisfeitos com o gabinete civil, mas era o fim do Império, sem tiros e sem manifestações populares. Do embaixador francês sobre a Proclamação: “Dois mil homens comandados por um soldado revoltado bastaram para fazer uma revolução que não estava preparada, ao menos para já. Informações particulares permitem afirmar que os próprios vencedores não previam, no começo do movimento, as condições radicais que ele devia ter.”





 
A Proclamação da República no Campo de Santana em 15/11/1889, os tiros eram para o alto Aconteceu um golpe de Estado , uma quartelada e um desfile militar comemorativo.Tiveram como adversário um imperador doente e cansado, uma monarquia com problema de sucessão no trono e um ministério dividido, cego para as dificuldades prementes. Nas vésperas do Quinze de Novembro, 35 coronéis da Guarda Nacional  receberam títulos de barão, talvez tenha sido esta a única prosaica providência que se tomou para evitar o esperado golpe !

D, Pedro II desceu patriarcalmente a serra, imaginava usar seu notório bom senso para apaziguar a situação. A imperatriz fatalista avisou: "está tudo perdido " ele retrucou-lhe: " Qual senhora, chegando lá isso se acaba !" . Foi esta a atitude errada e finalizadora da monarquia, poderia ter sido diferente! Foi fácil demais !



A cada passo na ação contra a família imperial
o monarca perguntava : Deodoro sabe disto ?


"Ói, olha o céu, já não é o mesmo
 céu que você conheceu,
não é mais.

Vê, ói que céu, é um céu 
carregado e rajado
suspenso no ar.

Vê, é o sinal, é o sinal das 
trombetas, dos anjos e 
dos guardiões.

Ói, lá vem Deus, deslizando
 no céu entre brumas de
 mil megatons.

Ói, olha o Mal, vem de braços e 
abraços com o Bem num
romance astral..."

Raul Seixas



Um vaidoso e perfumado Marechal, no início, Deodoro desejava apenas derrubar
 um ministério hostil aos militares, era contra Ouro Preto, e não contra a Monarquia.


"Nossos dois primeiros presidentes foram militares. E nenhum dos dois era republicano, em qualquer sentido que se possa atribuir ao termo. O alagoano Deodoro da Fonseca (1827-1892), veterano da Guerra do Paraguai, monarquista convicto e amigo do imperador, não pensava em derrubar o regime – muito menos em ser presidente. Tratava-se, naquela ocasião, de derrubar o gabinete liberal do visconde de Ouro Preto, durante o contexto da chamada Questão Militar: republicanos que se aproximaram de Deodoro espalharam a falsa notícia de que o ministro ordenara sua prisão. Mas a decisão do líder militar de extinguir a monarquia decorreu da informação de que outro político liberal, o gaúcho Gaspar da Silveira Martins, seu inimigo pessoal (por um típico caso de rabo de saia), assumiria o novo gabinete. Assim, por motivos nada republicanos, decretou-se a República".

texto do historiador Rodrigo Elias

Silveira Martins era inimigo fidagal de Deodoro da Fonseca: República nascida
de uma antiga  rixa de velhuscos por causa de rabo-de-saia de baronesa gaúcha.

 

A  Baronesa do Triunfo não era morena, era uma linda senhora da sociedade  gaúcha: loira e viúva. Silveira Martins caiu do cavalo e quebrou a perna quando passava na fazenda dela, por lá ficou sendo cuidado pela nobre senhora, tanto na perna como em outras partes, ficaram juntos. Deodoro perdeu e jamais perdoou !

O Gabinete conservador liderado pelo Visconde
de Ouro Preto foi o último do Império.

Assim que assumiu o ministério de Ouro Preto, propuseram reformas contundentes e com características republicanas: o Senado deixaria de ser vitalício, o Conselho de Estado teria seus poderes reduzidos deixando de ser executivo, eleições municipais, indicação dos governadores das províncias pelo imperador, porém dentro de uma lista de mais votados; sufrágio universal e liberdade de culto entre outra. O gabinete conservador de Ouro Preto bem que tentou implantar estas ações legais democratizantes e inovadoras, um deputado do Rio de Janeiro gritou em plenário: É o começo da República! E foi retrucado no ato : Não, é a inutilização da República.O caso era mais singular, se não havia ódio e sentimentos de vingança popular contra a monarquia, ou nos altos círculos do comando militar,  todavia havia a repulsa dos oficiais de mais baixa patente. Estes, reunidos no Clube Militar, manipularam o Mal. Deodoro - 62 anos - a encabeçar a ação golpista. Este na época estava muito doente e hospedado na casa do irmão médico, sentia muita falta de ar e não estava disposto a largar o leito de convalescência. O imperador não chegou a falar com nenhum dos líderes do golpe, enviaram-lhe um corpo militar de guarda para evitar sua movimentação e para que não saíssem da capital, subalternos encarregaram-se da necessária troca de recados.


O ministério imperial capitulou sem resistência diante do emblemático Marechal Deodoro. A motivação do marechal alagoano era militar, corporativa, e apenas secundariamente republicana. Entregar o poder para os "casacas" civis, não era a função da quartelada e protelaram na entrega por muitos anos. Prudente de Morais foi o primeiro presidente eleito a tomar posse, em novembro de 1894, ou seja, cinco anos depois da quartelada "fonsequiana", seu mandato foi caracterizado por um governo inseguro , pendente e sempre pressionado pelos militares."Os principais culpados de tudo isso [a proclamação da República são o Conde D'Eu e o Visconde de Ouro Preto: o último por perseguir o Exército e o primeiro por consentir nessa perseguição", diria mais tarde Deodoro da Fonseca, explicando a queda da monarquia na sua visão.

Uma República muito estranha: militares no governo
 e sem perspectivas de eleições próximas.
A consequente revolta na Marinha que
não foi convidada ao Poder, com
 isto o despropósito dos
republicanos ficaria
 bem visível !

"Retirou-se sem cair na cova que lhe fora destinada"
Prudente de Morais - 1º Presidente Civil
a governar, mandato em 1984.



Laurentino Gomes em entrevista
 à revista Veja em 2013, 
sobre seu livro
 "1889":

"Ainda sobre as amizades de Dom Pedro II: o texto na contracapa de 1889 diz que ele e o marechal Deodoro da Fonseca eram amigos. Eles eram próximos, mesmo? 


Não chegavam a ser íntimos, mas havia uma admiração. Deodoro disse que gostaria de carregar as alças do caixão do imperador. Ele se considerava realmente um súdito do imperador, o que torna a atitude do marechal, no dia 15 de novembro de 1889, ainda mais estranha. Um ano antes, ele escrevia cartas para o sobrinho Clodoaldo, no Rio Grande do Sul, dizendo que República e desgraça eram a mesma coisa. Ele era claramente um monarquista. Mas era também um homem vaidoso e magoado. Um copo de mágoa transbordado. Ele se considerava desprestigiado pelo governo imperial, achava que o Exército era desconsiderado nos seus méritos. Acaba dando o golpe republicano mais por mágoa pessoal que por convicção política. "  "Entre as mágoas pessoais do marechal, está a rivalidade com o fazendeiro gaúcho Gaspar da Silveira Martins, para quem ele havia perdido a baronesa do Triunfo. É, tem uma história de alcova que ajuda a explicar a decisão do Deodoro na madrugada de 16 de novembro. Porque ele havia destituído o ministério do visconde de Ouro Preto, mas não havia proclamado a República até ali, até saber que Dom Pedro II havia escolhido Silveira Martins para chefiar um novo ministério." 

"Foi também pela vaidade de Deodoro que o professor Benjamin Constant, mentor político dos alunos na escola militar, foi ofuscado em seu papel de herói republicano? 

O Benjamin Constant é um personagem surpreendente. Não dá para entender o processo de troca de regime sem estudar o papel do Benjamin Constant. Ele foi o mentor intelectual daquela mocidade militar que fez o golpe contra o Império em novembro de 1889. Mas é um homem com dificuldades pessoais enormes, perdeu o pai cedo e tentou se suicidar quando adolescente, venceu diversos concursos públicos, mas perdeu a vaga por não ter padrinho, e vivia preocupado em desmentir a fama de medroso na Guerra do Paraguai. Na República, ele foi relegado a um papel secundário porque os militares tentam dar ao marechal Deodoro, que nem era republicano, o papel de pai do regime. Todos querem agradar o chefe novo. Na constituinte de 1891, por uma proposta do jornalista Quintino Bocaiúva, o Benjamin Constant seria aclamado o fundador da República, mas o Deodoro fica ensandecido com isso, e essa é uma das razões pelas quais ele fecha o Congresso e mais tarde renuncia."

Ao ocaso do grande timoneiro imperial seguiram-se barbaridades e traições, contudo
 sua deposição foi fria e racional, como ele mesmo era. O sangue farto e o caos iriam
 acontecer cerca de quatros anos após ser exilado, então ele já havia falecido,
sem saber da grande confusão e mortandade da Revolução Federalista.

A cada passo na ação contra a família imperial o monarca perguntava desnorteado com a desfeita: "Deodoro sabe disto ?....Deodoro sabe disto ? " Mais tarde percebeu a traição do amigo: deveria ter imediatamente ido para o interior do país, evitando a capital revoltosa, nas províncias certamente receberia maior apoio, desta forma o golpe não teria sido tão rápido e indolor para os militares. Na ocasião da Proclamação da República , em 15 de novembro, ocorrera uma eleição três meses antes, apenas dois parlamentares republicanos foram eleitos ! Era este o tamanho eleitoral que tinham sem os militares !

Dizem que tinha um postura física perfeita, e uma expressão de águia no rosto,
sob o ponto de vista monarquista mostrou-se um traidor oportunista.


Deodoro proclamou a República para resolver questões militares, era um maçom monarquista dos mais confiáveis, foi cooptado por Benjamin Constant em função de brios militares feridos pelos gabinetes do imperador. Por isso, o imperador, que estava em Petrópolis, quando soube do golpe, pensou ser apenas uma agitação militar passageira para depor o ministério que era momentaneamente hostil aos militares, afinal os chefes de alta patente eram todos seus amigos de longa data, não haveria qualquer ameaça sobre eles e eles sabiam. Todavia, Deodoro era muito mais corporativo dentro do Exército que monarquista, mostrou-se então republicano de última hora, depois arrependeu-se do ideal republicano e acabou por instaurar uma ditadura militar. Logo também viria a renunciar à função de presidente da república e em seguida faleceria. Teve tempo e oportunidades em vida de demonstrar suas verdadeiras convicções e caráter, o que ficou mais marcante com relação a sua pessoa, foi o imenso respeito depositado nele  por seu colegas militares e sua grande autoconfiança.

 
Depoimento da Baronesa de Loreto - Amanda Paranaguá Dória


Trecho da carta do Mal. Deodoro da Fonseca enviada a
D. Pedro II em 16 de novembro de 1889.




  
 Nenhum dos proclamadores veio a ter com com D. Pedro II, frente a frente.“O país conta que sabereis imitar, na submissão aos seus desejos, o exemplo do primeiro imperador em 7 de abril de 1831.” Dizia um documento enviado por Deodoro ao imperador, lembrando a abdicação e posterior decisão  de Pedro I em ir para a Europa. A indicação de Silveira Martins para um possível novo ministério, foi decisiva  para irritar Deodoro ao ponto dele mudar  sua motivação de apenas derrubar o ministério Ouro Preto, para a iniciativa de destronar os Braganças brasileiros. Diante do erro na indicação, D. Pedro ainda tentou propor um outro ministério, mas a resposta trazida pelo  major Tropowisky era negativa e acompanhada de um comentário: “já é tarde”.



A ingratidão, o exílio e o desgosto não foram previstos!
O golpe era até esperado!



Deveriam ter deixado o diabetes apagar a vida do imperador, mas açodaram-se !
Em parte estariam certos, posto que não houve uma única morte para dar
 dignidade à queda da monarquia.



"Pari meu ser infinito,
 mas tirei-me a ferros
 de mim mesmo."


Fernando Pessoa

 Exílio na madrugada chuvosa, D. Pedro II parte para não mais rever o Brasil, começou a governar aos 14 anos, não tinha um centavo no exterior e foi mantido por amigos até o seu falecimento. A imperatriz levou suas poucas joias ! Configurava-se o desconforto e a insegurança no fim da vida.





No fim da vida infligiram-lhes
o insulto do exílio.


Narrativa de Raul Pompéia que assistiu a partida:

"Às três horas da madrugada, menos alguns minutos entrou pela praça um rumor de carruagem. Para as bandas do paço houve um ruidoso tumulto de armas e cavalos. As patrulhas que passeavam de ronda reiteravam-se todas a ocupar as entradas do largo, pelo meio do qual, através das árvores, iluminando sinistramente a solidão, perfilavam-se os postes melancólicos dos lampiões de gás. Apareceu então o préstito dos exilados. Nada mais triste. Um coche negro, puxado a passo por dois cavalos, que se adiantavam de cabeça baixa, como se dormissem andando. À frente, duas se nhoras de negro, a pé, cobertas de véus, como a buscar caminho para o triste veículo. Fechando a marcha um grupo de cavaleiros, que a perspectiva noturna detalhava em negro perfil [...] Quase na extremidade do molhe, o carro parou e o Sr. D. Pedro de Alcântara apeou-se — um vulto indistinto entre outros vultos — para pisar pela última vez a terra pátria [...]"

Ao embaixador Áustria, presente no embarque, a imperatriz perguntou:
"Que fizemos para sermos tratados como criminosos ?"


De Mary Del Priore:


"O traslado foi difícil. Chovia. Riscos de escorregões e afogamento não faltaram. O imperador tinha as pernas fracas, a imperatriz era pesada e coxa. Custaram a ser içados para o deque. Enfim, todos reunidos no tombadilho diminuto do "Parnaíba", alguns, entre eles o imperador, aguardaram o nascer do sol.(...) Às 18 horas, o "Alagoas" ancorava na enseada do Abraão, lado a lado com a canhoneira. O traslado mais uma vez se fez à noite. Praticamente pendurada por cabos, oscilando de uma embarcação para a outra, a imperatriz dava gritos que penalizavam a todos.""


Ao saber do embarque de Pedro II para o
 exílio, disse hipocritamente:

"Está cumprido o mais doloroso 
dos nossos deveres."

 
Sem a inteligência aguda de Benjamim Constant
 o golpe teria ocorrido muito mais tarde.


O Príncipe Augusto Leopoldo foi drasticamente expulso da tripulação do navio Almirante 
Barroso  no Ceilão, um telegrama comunicou ao comandante da belonave  a Proclamação
 da República e a ordem de desligamento imediato do príncipe.



Um encantador samba popular celebrou
o Centenário da Proclamação !

"Pra Isabel, a heroína
Que assinou a lei divina
Negro, dançou, comemorou o fim da sina

 Na noite quinze e reluzente
Com a bravura, finalmente
O Marechal que proclamou foi presidente

Liberdade!, Liberdade!

Abre as asas sobre nós

E que a voz da igualdade
Seja sempre a nossa voz "



Refrão de Samba-Enredo - Carnaval de 1989 - Centenário da República


Lá se vai o Pedro da mala para  mais uma viagem!
Desta vez leva a coroa do império que sumiu.

Das pajelanças enciclopédicas de Pedro II surge a República !
Hilariante sátira do "O Mequetrefe".




A ótima charge da Revista Illustrada de 1881, mostrando o monumento
 a D. Pedro I em polvorosa, bem serve para também ilustrar a queda
do Império,seria cômica se não fosse trágica



A Proclamação da República não passou de uma quartelada militar, portanto sem maior apoio popular, nem dentro do Exército havia apoio total, estimava-se em apenas 15% de adesão à causa. Com receio do surgimento de movimentos de apoio ao tradicional governante, expulsam instantaneamente o monarca e família para o exílio.

 Embora não tenha me animado muito com os livros 1808 e 
1822, o verdadeiramente magistral 1889 me empolgou
por demais, e me rendi então e por fim à mágica
escrita de Laurentino Gomes.

Proibiram que a família imperial mantivesse bens imóveis no país. Ofereceram-lhe vultuosa indenização para viver em conforto na distância da Europa, já embarcados no Parnaíba, que depois os conduziria ao paquete Alagoas, a família imperial recebeu a notícia que o imperador receberia esta indenização informal de cinco mil contos de réis. Montava ao equivalente a pouco mais de seis anos de recursos da dotação usual da Casa Imperial, uma quantia vultuosa; o equivalente acerca de 70 milhões de dólares em valores atualizados. O monarca, sempre muito digno, recusou-a peremptoriamente ! Sabia que entrava para a História e não foi na saída que desmereceu sua biografia tão pautada pela ditadura da moralidade e pela falta de apego ao luxo desnecessário A renúncia a esta oferta do governo provisório iria custar-lhe uma sucessão de empréstimos para que a família imperial subsistisse, ainda que modestamente,  no exílio europeu. Foi uma tragédia financeira  para uma realeza que já vivia endividada no poder, destronada, ficou à deriva num mar de necessidades e diante dos amigos constrangidos a colaborar com a manutenção dos exilados.


" O reinado de sua filha não é deste mundo " -
frase dita a D. Pedro II por um político baiano.


A tudo vivenciou quieto e resignado sem jamais perder a calma e a dignidade, as mulheres choraram, a princesa preocupou-se com os filhos, eles ainda estavam em Petrópolis."Não sou negro fugido, não embarco a esta hora" - " Os senhores são uns doidos ! ", disse por fim o monarca deposto ao ser obrigado a embarcar oculto e na madrugada para definitivamente deixar o país.


O melhor navio de guerra da armada, o encouraçado Riachuelo, acompanhou o paquete  Alagoas , até que deixasse as águas brasileiras, evitando um retorno ou desvio de rota. Bem mais lento que o navio de passageiros, o vaso de guerra ainda atrapalhou a viagem atrasando-a. Pedro Augusto , visivelmente abalado e paranoico, imaginou e temeu que o poderoso vaso de guerra bombardeasse o navio onde viajavam até o naufrágio. Era uma época em que muitos monarcas estavam sendo assassinados com atentados a bombas e armas de fogo, a paranoia talvez se explicasse sob este contexto.




Após a decisão do banimento, o Alagoas foi preparado para conduzir os exilados, especial
 e exclusivamente. Portanto partiu quase vazio, apenas com a família imperial e seus
acompanhantes e amigos, sem outros passageiros comuns, em direção a Lisboa.

O diário da  Baronesa de Loreto, a bordo do vapor Alagoas e acompanhando 
espontaneamente sua inseparável amiga Isabel,  também nos informa,
 com linda caligrafia, sobre a viagem do exílio.

O príncipe lançou algumas garrafas com mensagens paranoicas ao mar, temia o assassinato de Família Imperial, andava sozinho compulsivamente no convés superior do navio, atacou o comandante num momento de desatino e delírio , foi confinado em sua cabine e neste ponto começou a perder o autocontrole. Sofreu surtos psicóticos, os quais os demais passageiros atribuíam à aflição que lhe causava a movimentação do navio encarregado de fazer a segurança do Alagoas 


Do convés do Alagoas a família  imperial daria adeus ao Brasil, chega ao fim o Império !
D. Pedro II viu o último dia raiar  no Rio de Janeiro, sem dormir
 e a bordo Parnaíba, antes de embarcar no
 Alagoas rumo a Portugal.


“Todas essas manobras só têm servido para assustar o príncipe dom Pedro Augusto, que, desde ontem, sofre de superexcitação nervosa, se acha possuído de pânico e pensa que estamos todos perdidos e não chegaremos a Lisboa. O seu estado é lastimável”, registra o diário da baronesa de Loreto. Seu estado psicológico melhorou  quando, na altura da Bahia, o Riachuelo voltou para o Rio de Janeiro deixando o Alagoas seguir em frente, pesado e lento só prolongava a viagem, além de assustar. Mota Maia avaliou o quadro psicológico do neto preferido e avisou Pedro II dos seus prognósticos sombrios sobre o rapaz. Após ser exilado, Pedro Augusto pode compreender que suas manobras para ascender ao trono só favoreceram aos republicanos. Porém manteve a esperança de ser ainda chamado para suceder o avô, caso houvesse uma restauração. Os primeiros anos de República foram turbulentos e cheios de revoluções, embates militares e muitas mortes. Durante o caos, houve quem apostasse na volta de uma monarquia pacificadora.


O Encouraçado Riachuelo fez o acompanhamento militar da partida para
 o exílio, na altura da costa baiana retornou à capital do país, estava atrasando a viagem.



Laurentino Gomes em entrevista à revista Veja em 2013 revela-nos um detalhe que corrobora com os receios do príncipe Pedro Augusto sobre a possibilidade de execução da família imperial pelos
 militares republicanos, uma atitude de revolucionários muito observada 
naquele final de século:


"O alferes Joaquim Inácio Batista Cardoso, avô do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, também defende que a família real seja fuzilada, caso resista ao exílio. Você conversou com FHC sobre o caso? 
Essa história é maravilhosa, o avô sanguinário do Fernando Henrique (risos). Não falei com ele sobre isso, mas acho que ele vai se surpreender com essa passagem. E com aquela em que o bisavô envia um telegrama para o filho, o Joaquim Inácio, reclamando da república que ele ajudou a fundar. É muito engraçado. (De Goiás, o Capitão Felicíssimo do Espírito Santo Cardoso, bisavô de FHC, escreve um telegrama ao filho no Rio, caçoando da república recém-proclamada: “Vocês fizeram a república que não serviu para nada. Aqui agora, como antes, continuam mandando os Caiado”.)"



O paquete Alagoas já ancorado na foz do Tejo e sendo
abordado por um navio menor com visitantes.

Do jornal  português Occidente em 1889.


A galeota oficial da Coroa de Portugal conduz o rei Carlos I, movida a 80 remadores, para bem receber
 e levar à terra, com todas as honras de Estado, a destronada e exilada família imperial brasileira.

Do jornal  português Occidente em 1889.



 O desembarque no cais de Lisboa dá  início
ao desconforto do exílio europeu.


Chegaram os imperiais exilados em Lisboa, provocando evidentes constrangimentos a D. Carlos I, rei de Portugal. O monarca lusitano terminava o primeiro mês do seu reinado recebendo os parentes brasileiros destronados, talvez uma prévia de seu próprio futuro, um ânimo para o Partido Republicano Português. .




Assim que chegaram à Lisboa, hospedaram-se no Hotel Bragança, recusando o convite feito pelo rei D. Carlos de serem acomodados em palácio oficial para visitantes estrangeiros ilustres. Para se ter uma idéia do aperto financeiro em que viveriam: os bens e as dívidas do casal D'Eu se equivaliam. Estavam sem renda, a família de Gaston , percebendo o vexame que se descortinava, concedeu-lhe uma mesada emergencial de oito mil francos, foi a salvação.




A Imperatriz tinha problemas cardíacos, temerosa e desgostosa com relação ao
 futuro da família no exílio europeu, morreria num hotel de terceira ordem em Portugal.


"A lembrança dessa princesa napolitana, de gosto artístico refinado 
e um meio sorriso “à la Mona Lisa”, merece ser alçada de
 novo à luz, como aconteceu com os
 tesouros de Pompeia."

Descrevo aqui o seu falecimento com riqueza de detalhes, em contraponto
 ao desrespeitoso silêncio que os livros de História reservaram-lhe.

O poeta e jornalista brasileiro Arthur Azevedo escreveu após sua morte sobre a visão geral tida sobre Teresa Cristina: "Eu nunca conversei com ela, porém sempre que passei ao seu lado respeitosamente tirei meu chapéu e me curvei, não para a Imperatriz, mas sim para a doce e honesta figura de uma burguesa pobre e quase humilde. Vi vários republicanos extremistas fazendo o mesmo".

Impressionante a  perfeição
 desta obra de arte.

Aniello Avella escreveu  que a imperatriz  é
uma figura "totalmente desconhecida na
 Itália e pouco estudada no Brasil".

Do jornal  português Occidente em 1890.

A imperatriz, que já passava mal na viagem de 20 noites cruzando o oceano,  faleceria pouco depois, em 28 de dezembro de 1889, durante um fulminante ataque cardíaco, num hotel despojado da cidade portuguesa do Porto. Disse, durante a agonia do infarto, à sua fiel dama de companhia: "Morro de desgosto ! "- ao saber da viagem de banimento bradou revoltada com a ingratidão: " Por que nos tratam como criminosos ? Que fizemos de mal ?" “Desde que saiu do Brasil, ela mostrava-se impressionada pelos horrorosos acontecimentos tão sabidos. Eles, sem dúvida, concorreram para a sua morte”, afirma Amandinha Paranaguá, a Baronesa de Loreto, em seu recém descoberto diário. Relato das Irmãs de caridade que velavam o corpo embalsamado de Teresa Cristina, o cadáver enfrentaria cerca de 10 dias  de cerimônias fúnebres,  numa câmara mortuária tão cheia de flores que mais parecia um jardim. “O enterro da imperatriz foi um acontecimento. Foi feito com muito respeito e todos mostraram muito sentimento". Satisfazendo o desejo de D. Pedro, o corpo foi trasladado para Lisboa e enterrado em São Vicente de Fora, panteão dos monarcas portugueses. Estavam presentes, também, os d’Eu, a melhor nobreza de Portugal segurando as alças do caixão, além dos representantes da Áustria e da Alemanha. Saudades da “minha santa”, repetia o monarca. “Quem diria que ela subiria aos céus para orar por mim e por todos que amou e estimou na terra?”, se perguntava acabrunhado. O programa do funeral foi publicado nos jornais

 Do jornal  português Occidente em 1890.

Do jornal francês Le Figaro em 29 de dezembro de 1889: “A Europa saudará 
respeitosamente esta imperatriz morta sem trono, e dir-se-á, falando-se
 dela: sua morte é o único desgosto que ela causou a seu marido durante
 quarenta e seis anos de casamento”.

Podemos considerá-la como uma importante vítima do golpe militar que  proclamou o novo regime. Submerge assim a imperatriz silenciosa e napolitana, mergulha tristemente no tempo e entra com passos cambaleantes, mas suaves, discreta como sempre, para História do Brasil. Madame de Barral , sua histórica antagonista, a única que conseguiu de fato fascinar o imperador e adentrar no paço, poderia ter desposado Pedro II e se tornado, já na velhice, a quarta imperatriz, ele adoraria esta possibilidade, ela nem tanto. A condessa , bem mais velha que o imperador, tratava-o com um respeitoso e apaixonado desdém, ele sim lhe tinha fervorosa adoração. Todavia a Proclamação da República acabou com todos os sonhos de Pedro II, mas o romantismo que lhe era tão característico, sobreviveu, ele já no fim da vida ainda colhia flores para a amada condessa.

Do jornal  português Occidente em 1890.





Do jornal  português Occidente em 1890.



A imperatriz silenciosa falece muito desgostosa, piorando ainda
mais o ânimo geral da família imperial exilada.

"A cena mais pungente descrita no diário  de Amandinha é justamente a morte da imperatriz em um hotel simples da cidade do Porto, para onde havia se retirado. Dom Pedro tivera amantes; com uma delas, a condessa de Barral, manteve um romance de 26 anos que continuava vivo naquele momento. Mas, no quase meio século em que esteve casado com Teresa Cristina, apegara-se a ela e tratava-a com ternura. “Antes de soldar-se a urna, o imperador quis despedir-se da imperatriz e mandou chamar a todos nós para fazermos também nossas despedidas”, escreveu a baronesa. “Não se pode descrever a dor dos príncipes e a nossa. Beijamos-lhe a mão e choramos copiosamente sobre o seu corpo sem vida.”  


Esta é a última foto que conheço
 da silenciosa imperatriz.

 O próprio dom Pedro, normalmente contido em suas reações, não esconde a tristeza. “Ele abraçou a sua muito amada esposa soluçando e foi logo retirado dali pelo Mota Maia (médico da família). A princesa beijou sua santa mãe repetidas vezes; o mesmo fizeram os príncipes, e nós beijamos a mão de nossa imperatriz, que fora sempre tão boa e carinhosa.” O choro de dom Pedro era também por ele, que acabou morrendo dois anos depois, aos 66 anos, de pneumonia, no modesto hotel de Paris onde viveu o fim de seus dias. A baronesa de Loreto voltou com o marido ao Rio de Janeiro, onde morreu em 1931, aos 82 anos, sem jamais publicar seu relato da viagem que mudou tantas vidas e que agora, enfim, vem à tona."  

da Revista Veja em matéria sobre o diário de Amandinha Paranaguá descoberto no IHGB

Para R. Barman, a personalidade de santidade que Pedro conferiu à falecida Teresa Cristina, lhe assegurou o perdão  diante de sua  consciência, por não tê-la tratado bem ao longo da vida matrimonial, além de lhe ter garantido uma proteção pela eternidade, já que ela certamente interveria a seu favor junto aos céus.

Reproduzo a  palavra sensível e perfeita de Mary Del Priore:

"Teve início a melancólica peregrinação de D. Pedro por estações balneárias e casas de amigos. Ela acompanhava o roteiro pelo correio. As cartinhas procuravam animá-lo ou fazê-lo rir. Para economizar dinheiro, os Bragança passaram um mês em Voyron, em propriedade de Luísa de Barral. Até duchas para D. Pedro ela providenciou. Houve recepções, piqueniques e passeios como eles gostavam. Um ano depois de sua deposição, estava em Cannes, para onde Luísa seguiu. Encontrava-o para as “conversinhas” que tanto apreciavam e para, num derradeiro gesto de carinho, ela massagear-lhe as mãos dormentes por efeito do diabetes de que sofria. "

  do diário de Amandinha Paranaguá

 
Visita do Família Imperial exilada à Condessa de Barral - com chapéu preto - 
em sua antiga residência em Voiron, na França.

"A verdade é que a viagem que fez a Cannes para saudar seu amigo abalou a saúde de Luísa, tão forte até então. Ela emagreceu e definhou. O golpe republicano a atingiu em cheio. Monarquista convicta, a condessa viu caírem reis em cuja mesa se sentava e desaparecerem cortes onde brilhara. Mas desaparecer o Império do Brasil?! Foi demais. Só teve uma alegria: a de receber no castelo de Voyron, durante um mês, toda a família imperial – sem a imperatriz, que morreu logo ao chegar a Portugal, em dezembro de 1889. Conservou até o último minuto toda a consciência e viu chegar a morte com profunda serenidade. Morreu como se morria no século XIX: com a convicção de que a morte era repouso, sono sem sonhos, pacificação. Nenhuma reação de repulsa. Ao contrário: ia-se com um sorriso nos lábios. Ele a seguiu menos de um ano depois... "


do diário de Amandinha Paranaguá.




O imperador, já sem império e sem casa, perambulava sem maiores recursos pela Europa, dependente da hospitalidade de amigos. Passou algum tempo no castelo da Barral no interior da França. Romântico, gostava de colher flores para deixá-las à porta do quarto da antiga amante. Foram suas últimas manifestações de afeto - a condessa morreria poucos meses depois, de pneumonia  em janeiro de 1891. Pedro II seguiu-a em dezembro do mesmo ano. A condessa, a amiga, a amante e a interlocutora insuperável, faleceu com quase 75 anos, era bem mais idosa que o imperador. “Foram almas gêmeas e unidas até o fim, cujos corações não envelheceram” 

 A irmã mais nova da Baronesa de Loreto casou-se com Horace Dominique, com chapéu branco, o único filho da Condessa de Barral, aparecem ambas as irmãs ladeando D. Isabel na foto da visita à casa da condessa. A amiga dileta que abraça a princesa é a  autora do diário que agora se torna referencial , texto em detalhe. Já a irmã posa no lado oposto, próxima ao marido e aos filhos . Os três filhos loiros da princesa se misturam às duas crianças morenas, netos da Barral, a senhora de chapéu preto ao lado do Príncipe do Grão-Pará. Como a foto bem mostra, D. Isabel não era bela, mas era sim aristocrática e elegante por natureza, me faz lembrar de uma descrição do tempo em que se casou com o conde francês : "O conjunto de seu porte e de sua pessoa é gracioso."


Hospital erguido após a demolição parcial
do Château Barral- Voiron
Na última década de seu reinado, Pedro II contribuiu significativamente com recursos
 financeiros de sua dotação particular  para a restauração do Château Barral.
Apenas a torre da construção original foi aproveitada no corpo do
 novo hospital erguido no mesmo local.


"No entanto, em 8 de janeiro de 1890, d. Pedro rejeitava a quantia, afirmando que “não aceitaria ou agradeceria o favor das mãos do general que tudo lhe levara”.4 Só receberia as dotações a que tinha direito por meio das leis e compromissos antes existentes. A reação do ex-imperador só fez por irritar o governo provisório, que em resposta seca, e redigida por Rui Barbosa, comenta a atitude:

Decreto:

 [...] o governo provisório mantendo, todavia, essa vantagem ao príncipe decaído era simplesmente uma providência de benignidade republicana destinada a atentar os instintos pacíficos e conciliadores do novo regime ao mesmo tempo que uma homenagem retrospectiva à posição que o ex-imperador ocupava no país [...] A atitude [...] assumida pelo Sr. D. Pedro de Alcântara [...] carrega veleidades inconciliáveis com o sistema republicano.

1.É banido do território brasileiro o Sr. Pedro de Alcântara e com ele toda a sua família.

2. Fica-lhe vedado possuir imóveis no Brasil devendo o Imperador no prazo de seis meses liquidar os bens que aqui tenha.

3. É revogado o decreto de 16 de novembro de 1889 que concedeu ao Sr. D. Pedro de Alcântara 5000 contos de ajuda e custo para seu estabelecimento no estrangeiro.

4. Consideram-se extintas as dotações ao Sr. Pedro de Alcântara e sua família. Revogam-se as disposições em contrário.

O decreto revela como d. Pedro conseguira irritar os novos dirigentes, que não contavam com sua negativa. O documento traz consigo as marcas dos ânimos exaltados. É evidente que os artigos 1 e 2 — cuja marca de tinta é diferente — foram colocados após o 3 e 4. Tanto é verdade que, em um ato de descuido, Rui Barbosa esqueceu de transformar o 1 em 2, e restaram dois decretos número 1. O fato é que o ex-imperador surpreendia na sua despedida.



D. Pedro viveria, a partir de então, dos favores dos amigos, sobretudo de Penedo, e alardeando uma simplicidade coerente com a representação de mártir, que publicamente assumia; nada pior para a imagem da República, que preferiria alardear a sua “benignidade” e seus “instintos pacíficos e conciliadores”. "


"Que contrastes estupendos! Ao passo que o intitulado Congresso Nacional, conjunto de creaturas do governo da prepotencia, imposto pela mais fatal combinação ao Brazil, vai discutir uma pensão vitalicia de 120:000$000 ao maior dos patriotas que jamais teve este paiz, ao mais justo e nobre dos soberanos, abre Vossa Magestade mão de mais de 2.000:000$000, avaliação brevissima, pela rama, das preciosidades que alli estão reunidas. Dous mil contos? E os incunaveis e os exemplares rarissimos e aquelles livros em pergaminho e lettra de mão e illuminuras? "

Cartas de Alfredo d' Escragnolle Taunay a d. Pedro II sobre a biblioteca particular do soberano



D. Pedro II é claro quanto ao que deseja para o futuro de sua biblioteca (cujos volumes são divididos entre Biblioteca Nacional e Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro) e do que chamava de seu museu. “A parte relativa às ciências naturais e à mineralogia sob o nome de ‘Imperatriz Leopoldina’, como todos os herbários que possuo, fica para o Museu do Rio [atual Museu Nacional]”.

O desgosto e a perda da saúde abalaram a fisionomia do
ancião que parecia ter 20 anos a mais .


Portanto, a realeza brasileira exilada e sem maiores recursos financeiros , levava uma vida acanhada que girava em torno da precária saúde do patriarca imperial. O imperador faleceu 1893, vítima de uma pneumonia, findando esta fase tão sofrida, seguida à perda do trono. Vivia  hospedado no segundo andar do hotel Bedford, após um passeio sob uma fina chuva no inverno parisiense, o resfriado contraído evoluiu para uma definitiva infecção pulmonar, nessa época o melhor remédio que havia para gripes e pneumonias era a aspirina. Partiu assim da vida o melhor dos brasileiros: na tristeza do exílio numa França que lhe era tão profundamente amada.


Exilados nas praias francesas, a barca da monarquia navegava no seco, os
 jovens príncipes sem reino nem imaginavam as dificuldades vindouras.



Uma família nobre francesa, foi este o novo status
que buscavam os destronados exilados


Já no exílio e diante de uma situação de vida difícil, teria posteriormente reprovado a forma com a qual a princesa libertou os escravos. Ao reavaliar os impactos econômicos da abolição e o fim abrupto da monarquia, teria se referido à princesa como: "A maluca da minha filha".



Os irmãos Coburgo no exílio.



Na foto se vê a pequena corte que cercava o ex-imperador: D. Isabel,
os netos pequenos, Pedro Augusto, Mota Maia, os Muritibas e Loretos


No fim da vida mostrava-se deprimido.

O governo francês deu-lhe um funeral condigno,
 era extremamente popular em Paris.


Uma significativa parada militar com 13 regimentos de soldados franceses e mais uma expressiva multidão pessoas acompanhou o féretro do ex-monarca. Ele sempre mostrou ser notório francófono, os parisienses chamavam-no de "Don Pedrô" - a parada fúnebre seguiu até o trem que o levaria ao sepultamento em Portugal.
 

A França, também republicana, não poupou honras ao velho monarca brasileiro, o governo brasileiro não gostou das pompas oferecidas ao ex-monarca. No fim e sem recursos, humilde e apenas imperador de si mesmo, manteve a dignidade e o brilho pessoal que sempre teve.
Vive la France !



Dormiu então o sono dos justos !
A História do Brasil velará pela tua memória !




Até no leito de morte tinha um livro embaixo da almofada, amparando-lhe a cabeça. Foi embalsamado com seis litros de cloridrato de zinco e alumínio, injetados via carótida pelos médicos que o assistiram. Seu quarto no segundo andar do hotel foi forrado com veludo negro, o corpo foi primeiro depositado num caixão de chumbo e depois em outro de carvalho envernizado. D. Isabel proporcionou-lhe um funeral condigno e foi logo reconhecida pelos monarquista e amigos como sua legítima e inquestionável sucessora nos direitos dinásticos.

O Atestado de Óbito assinado
 por seus médicos.

Dr. Mota Maia,  tornou-se o Pedro III prático que foi possível ter.

Médico e amigo pessoal de D. Pedro II, feito conde de Mota Maia pelo seu paciente,  fielmente zelou pela saúde do imperador por toda essa fase final , acompanhou a todo o processo de evolução do diabetes até o falecimento, por fim ajudou a embalsamar seu corpo.


 O jovem estudante de medicina  teve seus estudos 
na Europa pagos pelo imperador, em amizade
 e gratidão ao amigo e imperante, cuidou
 dele a até o fim de seus dias.


Trouxe para o exílio sua esposa e seus seis filhos, configurou-se  num auxiliar fiel, porém muito caro. Desafeto declarado e virulento do príncipe Pedro Augusto, o neto preferido, Mota Maia classificava-o como um alienado onanista, dada a falta de namoradas e amantes, tinha grandes simpatias públicas por D. Isabel e seu marido. Em contrapartida, o príncipe atacava dizendo ter sido o médico um verdadeiro "Pedro III", tamanha era a sua tirânica influência sobre  a saúde e as últimas decisões sobre a vida do imperador diabético.




Dois grandes amigos:
o médico e o paciente imperial.






7 comentários:

  1. foi uma honrra conhecer um pouco da historia de dom pedro // , me sinto mais (brasileiro) ...
    Paulo cesar rio de janeiro (rj)

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  2. Vc nos transmite uma emoção muito forte, as imagens históricas são fantásticas e o texto é sério, humano e aprofundado. Me fez chorar...muito obrigado !

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  3. Sempre tive especial admiração por Pedro II, Agora o tenho mais depois de conhecê-lo melhor através deste seu profundo e interessantíssimo artigo. Que documentação fantástica. Pena que nossos professores de história, na quase totalidade, ficam apenas repetindo o que os livros didáticos tão singelamente dizem, sem realçar a figura impar desse grande brasileiro, monarca cidadão. Parabéns por esta excelente postagem.

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  4. Tenho 32 anos e só agora estou conhecendo de verdade a história de meu país. Obrigado por ter feito este blog. simplesmente perfeito!

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  5. Vc com esta sequencia fantástica de fotos e comentários ressuscitou esta gente toda, estão certamente vivos no seu blog . Estão vivíssimos! Parabéns !

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  6. Belas Postagens!!! Brasil de Antigamente...História,Magnífico.

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  7. Maravilhoso trabalho! O Drama do Brasil... em algumas passagens me parece que, realmente, merecemos o que temos hoje, porque os brasileiros foram os responsáveis por seu destino. Riamos do que tínhamos de mais honrado, culto e nobre, defenestramos o nosso maior Estadista. Colhemos hoje os frutos.

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